Alguma coisa acontece: caminhando a pé em SP
Os caminhos a pé na cidade onde tudo acontece ao mesmo tempo
Nota da editora: Não consigo dizer quando exatamente conheci a Mônica pessoalmente, só sei que ela é seguidora antiga, antiga do Viva SP, esteve presente em mais de uma atividade presencial que fizemos no passado e, entre tantas trocas culturais, acabamos nos aproximando. De longe acompanho os trajetos e descobertas dela por São Paulo e seu olhar poético para a “cidade onde tudo acontece ao mesmo tempo". Foi em um show na Arena B3, no centro histórico, que eu e a Gabi encontramos a Mônica por acaso e ali surgiu a ideia de convidá-la para escrever um texto sobre suas andanças pela cidade. Uma participação mais do que especial na Alguma Coisa Acontece e um convite para que você tire o tênis do armário e vá explorar a cidade a pé também. Boa leitura!
👣 Nos caminhos da cidade
Por Mônica Schröder
Uma pessoa (ou talvez mais de uma) já me disse que é difícil concluir um texto; contrariamente, acho mais difícil - preciso admitir - começar um! Ainda mais quando me pedem para elaborar um texto em tom pessoal, acostumada que estou ao dever de ofício de formalizar os problemas e as soluções em ofícios, despachos, processos administrativos, portarias, enfim, documentos formais…
Então, estava eu às voltas com a dificuldade de como começar este texto, quando me ocorreu que o pedido feito pelo pessoal do Viva SP | Cultura − sobre “como o caminhar por São Paulo muda nosso olhar e nos leva a descobrir novos lugares e perspectivas da cidade" − justamente se deu porque, de tanto caminhar por e para lugares legais, acabei encontrando mais de uma vez com essas pessoas queridas. Deu aquele estalo de que, puxa!, realmente a disposição de caminhar e de buscar novos espaços e formas de se estar numa cidade como São Paulo abre as possibilidades de trocas e vivências. Partindo desta constatação deliciosa, acabei conseguindo a melhor motivação para começar o texto. E lá se foram dois parágrafos do espaço que me deram para a escrevinhação, risos!
Não sou paulistana (nem paulista), mas moro em São Paulo desde 2016. Conto isto para dizer que não estou enraizada desde sempre neste território espacial e social, até porque, atualmente, nem trabalho em São Paulo, apenas moro (e me divirto) aqui, não tenho na cidade amigos de infância, de ensino médio, de graduação etc. Toda minha trajetória, da infância à vida adulta, se deu fora de São Paulo. Avaliei que seria importante dar esse meu contexto de vida para ilustrar como minha ligação com a cidade se deu a partir, particularmente, do seu centro. Foi o centro de São Paulo que me fez criar uma identidade (e uma identificação) com a cidade. Beleza, diversidade, tensionamento, enfrentamento, sobrevivência, reprodução, assimetrias, heterogeneidade. Tudo isto se vive e se presencia no centro de São Paulo. E é nisto que encontro seiva para ter meu lugar na cidade.
Foi caminhando que descobri o centro de São Paulo. Nesse caso, emprego o verbo “descobrir” no seu sentido mais estrito - de avistar, de divisar, de enxergar -, mas também no sentido mais amplo, de atentar, constatar, notar, e até de criar algo. Foi andando pelo centro, no início apenas ampliando as bordas do entorno de uma estação do Metrô ou de um equipamento cultural, até ser ele próprio, o centro, um espaço de lazer: andar para entender as configurações entre o centro velho e o novo, caminhar para perceber as fachadas dos prédios e as diferentes camadas de tempo registradas neles, andarilhar para vivenciar uma emoção muito genuína de se misturar à cidade, de ser dela também, e finalmente introjetar atitudes derivadas do fato de se sentir acolhida pela cidade. Sempre digo que São Paulo é uma amiga, que me permite acumular referências estéticas (e filosóficas) a partir de tesouros artísticos, culturais e arquitetônicos, porém, mais do que isso, a cidade me impõe, no melhor sentido, ideias novas sobre diversidade, desigualdade, política, história e… Afetos. Cada caminhada, mesmo por lugares que já conheço, treinam meu olhar, e meus sentidos, para vivenciar emoções de pertencimento e de compreensão poderosas: o caos do centro faz sentido e é um valor para constituir minha identidade paulistana.
Caminhando pelo centro de São Paulo, noto que a cidade se mostra. É em seu centro, pelas contradições sociais e pelas camadas do tempo marcadas no patrimônio arquitetônico, que a cidade não se esconde no que seriam apenas os "seus melhores ornamentos" (essa expressão foi utilizada pela escritora Cristina Rivera Garza no livro “O invencível verão de Liliana”, justamente ao falar da beleza do espaço que ela percorria a pé e da sua condição emocional em função da razão que a colocou nesse caminho). A escritora observou também que "é fácil amar uma cidade onde tudo acontece ao mesmo tempo. Onde todo o tempo é tempo real." São Paulo, a partir do que vejo em seu centro, assim se materializa para mim, e isso me encanta - pois, não só me vincula à cidade, que bom, mas me preenche e me permite uma solitude acompanhada (risos) ou mesmo diluída nos muitos estímulos que o centro me oferece.
Tal vivência da cidade só tem sido possível para mim a partir das caminhadas pelo centro de São Paulo, coisa que fui intensificando desde que voltei a morar aqui, em 2016. Poderia descrever várias dessas andanças, todavia, destaco algumas a seguir.
Da Liberdade até a Praça da República, passando pela Praça da Sé.
Da Biblioteca Mário de Andrade, cruzando o Viaduto Nove de Julho, para chegar ao Edifício Viadutos, do icônico Artacho Jurado - a caminhada que vai possibilitando perceber, aos poucos, os detalhes do Viadutos, tão presente nesse entroncamento importante da cidade, é muito bacana! E essa caminhada pode ser esticada, pelo Viaduto Jacareí, para chegar no Edifício Planalto, para falar de outro emblemático projeto de Artacho.
Do Copan até o Metrô São Bento, atravessando o Viaduto do Chá e percorrendo toda a rua São Bento - de dia ou de noite, este percurso no calçadão é sempre revelador das muitas São Paulo manifestadas pela passagem do tempo e nas dinâmicas da vida social.
Do Mosteiro São Bento, num breve percurso pelo Viaduto Santa Ifigênia, até a Paróquia Nossa Senhora da Conceição e o Edifício Germaine Burchard - voltando para a estação pelo mesmo percurso, no fim de um domingo luminoso de outono, tem-se um avistamento lindo do Edifício Altino Arantes (o eterno “Banespão”).
Da Pinacoteca até o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios, na rua da Cantareira, quase às margens do rio Tamanduateí. Falando no rio, tentar imaginar como era sua várzea no século XIX, a partir do Pateo do Collegio e do Beco do Pinto, é uma experiência bem particular, considerando a maneira como a megalópole se industrializou e foi alterando sua interação com as águas do Tamanduateí.
Cada caminho percorrido provoca, instiga, acalma, abre perspectivas. Sobre a cidade e sobre a pessoa na cidade. Sobre a relação de cada pessoa com a cidade: de como usufruir intensamente o que é ofertado, por exemplo, na variedade de equipamentos culturais e nos museus, porém, para além disso, de como transformar e ser transformada pela cidade, na diversidade e nas contradições que o centro de São Paulo materializa, nos comprometendo a estar pra valer nessa cidade e na relação com quem vive nela/dela cotidianamente. É disto que se trata: caminhar pelo centro de São Paulo, renovando permanentemente nossa ligação com a cidade e ampliando a forma como a percebemos e como interagimos com ela.
Mônica Schröder é catarinense, mas escolheu São Paulo para morar. É economista e servidora pública federal. Gosta de fotografar a arquitetura e as paisagens urbanas, assim como também tem um apreço especial pelos museus de SP e as unidades do SESC. Acredita que a cidade lhe possibilita apurar o olhar, ampliar as vivências e enraizar a estética.
🚦 Farol Verde
Sua dose semanal de arte e cultura
Na cidade do trânsito, é um prazer andar a pé e notar uma portinha de vinhos, ou um sebo, uma galeria ou museu mais escondidinho…. E é impossível desfrutar desses detalhes se a pressa paulistana te morde e você entra no automático, pensando mais no destino final do que nos tesouros escondidos no percurso.
Assim, hoje relembramos alguns de nossos guias e roteiros que já figuraram aqui pela Alguma Coisa Acontece como um convite para você tirar os tênis do armário e se aventurar nas andanças paulistanas:
🔹 Guia de Bairro: Uma das melhores formas de sentir a essência de cada microcosmos na cidade, chamados de bairros, é caminhando. Assim, um guia de bairro para inspirar as caminhadas:
E, para quem é membro do Clube da Cultura, nosso plano de assituras, tem o Guia Para Comer, Passear, Comprar e Conhecer na Liberdade também:
🔹 Mas você vai sozinha?: Caminhar também pode ser uma ótima forma de curtir os momentos de solitude. Para te inspirar, vale a leitura do guia escrito em parceria com a
da newsletter Tá Todo Mundo Tentando:🔹 Portinhas cheias de afeto: Quer forma melhor de descobrir pequenos negócios e lojinhas artesanais do que caminhando? Garagens, janelas, portinhas… um guia com pequenos negócios para você visitar e se encantar também:
🎷 90s Soul Nights
Um passeio pela cena do R&B e Soul dos anos 90, de Erykah Badu a Michael Jackson, no Kia Jazz, o projeto de jazz do Viva SP, Jazz Mansion e KiaOra! Em uma atmosfera vintage, a cantora Lucille Berce coloca todo mundo para dançar ao som dos grandes hits e baladas da música soul dos anos 90. Muito R&B contemporâneo, funk e pitadas de hip-hop! O show 90s Soul Nights acontece na quarta-feira, 24 de julho, e tem ingresso VIP (gratuito) disponível no link abaixo para você conferir de pertinho!
📍 KiaOra Bar: R. Dr. Eduardo de Souza Aranha, 377 - Itaim Bibi
🗓 Quarta-feira, 24 de julho
⏰ Abertura da casa às 18h. Show às 20h30
🎟️ Ingressos: R$30
📲 Compra antecipada e VIPs aqui
🎭🔒 Clube da Cultura: o que rolou nos últimos dias?
Nos últimos dias, o clubinho dos apaixonados por arte e cultura recebeu uma edição exclusiva com algumas das experiências culturais mais legais e diferentes em SP, além de uma edição extraoficial com aviso sobre a abertura da venda de ingressos para 4 espetáculos absolutamente imperdíveis que vem por aí. De produções que unem arte drag e Shakespeare a peças de teatro com globais!
Em meio a tantas coisas e programas culturais em São Paulo, o Clube da Cultura te ajuda a saber o que priorizar, a fim de não cair em nenhuma enrascada ou perder algum evento diferentão! Além, claro, de saber tudo em primeira mão, então garantir os melhores ingressos e lugares nos espetáculos.
Se tornar membro do Clube da Cultura custa apenas R$7,90 por mês ou R$80/ano e você pode fazer a sua assinatura aqui pela newsletter ou pelo Instagram.
Se preferir assinar pelo Instagram, é só clicar no botão ASSINAR no canto superior direito das nossas publicações. Esse post aqui explica direitinho:
Obrigado por nos ler!
Semana que vem a gente volta com mais causos, impressões e experiências culturais em São Paulo.
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A Alguma Coisa Acontece é a newsletter do canal autoral e independente Viva São Paulo | Cultura e reúne histórias, causos, reflexões, experiências culturais e o que fazer em São Paulo. Afinal de contas, sempre acontece alguma coisa em SP!
Genteeeeeeee, que news linda!!! Eu me identifiquei com a Mônica! Amo nosso centro, caminhar, ver diferentes culturas, pessoas. Obrigada Alanaaaaaaa por esta news que é minha preferida ♥♥♥
Amo andar a pé aqui, especialmente no centro. Achei os roteiros muito legais, certamente os farei!