Alguma coisa acontece: guia para curtir São Paulo de forma solo
11 programas para curtir SP de forma solo pela escritora Gaía Passarelli
Nota da editora: Uma das coisas mais legais é fazer parceria com quem a gente admira e se identifica. Não sei bem dizer quando conheci a Gaía, mas nesses quase 10 anos de Viva SP | Cultura, ela sempre esteve presente na minha vida de alguma forma. Grande encorajadora das minhas viagens solo, mentora dessa newsletter aqui e amiga querida que já acompanhou os tantos altos e baixos do Viva São Paulo.
Sou suspeita para falar, mas que honra um crossover entre dois dos guias mais legais do mundo das newsletters! Essa semana, o Guia Paulicéia, da
teve curadoria minha com lugares fora do óbvio para conhecer a história de São Paulo e, quem dá o tom na edição de hoje da Alguma Coisa Acontece, é a própria Gaía com um roteiro para curtir SP de forma solo!Onze lugares para ir sozinha em São Paulo
Por Gaía Passarelli, da newsletter
Entre as coisas que me definem estão o gentílico (paulistana), a profissão (repórter e escritora) e alguns gostos (gosto de gatos e silêncio, odeio frio e gente que fala encostando em mim). Mas outra coisa que acredito que ajuda a definir minha personalidade, é certo apreço por solidão. Desde criança, sempre gostei de fazer coisas sozinha, quieta no meu canto, no meu tempo. Isso me levou a viajar solo pelo mundo (até hoje, pra mim, o melhor jeito de viajar) e escrever um livro, o "Mas Você Vai Sozinha?" (Globo Livros, 2016). E aparece bastante também no que escrevo semanalmente na minha newsletter Tá Todo Mundo Tentando, onde falo muito também sobre São Paulo. E é por isso que na hora de escrever essa edição especial para a Alguma Coisa Acontece, a Alana veio com a ideia de dar dicas de coisas que gosto de fazer sozinha em São Paulo. Tá aí, espero que curtam.
🔹Xeretar as prateleiras da livraria Martins Fontes🔹
São Paulo, ainda bem, tem larga oferta de boas livrarias de rua. Dessas, a Martins Fontes é a minha preferida. Frequentei muito a da Paulista quando morava na região, mas troquei pela unidade da Vila Buarque após mudar de casa — tem a mesma boa curadoria, apesar do espaço um pouco menor, e livreiros que sabem te deixar flanando confortavelmente pelo espaço. Fica ao lado do SESC Consolação. Ah, indico várias outras (boas!) nesse guia especial que escrevi em 2022.
📍 Livraria Martins Fontes: R. Dr. Vila Nova, 309 - Vila Buarque, São Paulo
🔹Flanar pelo bairro mais bonito da cidade🔹
Um amigo (que viveu anos em Paris) outro dia definiu Higienópolis como "o bairro mais bonito do mundo". Acho difícil cravar essa verdade como absoluta, mas de fato Higienópolis é um bairro bonito, com calçadas amplas, o Parque Buenos Aires e a admirável arquitetura moderna de seus muitos prédios. Até o shopping center do bairro, veja só, foi pensado para não destruir a estética do entorno. Pratico muito isso de andar a esmo pela cidade quando estou precisando esvaziar a cabeça ou me movimentar, e Higienópolis aceita bem essa prática. Vale levar no celular o Mapa Arquitetônico de Higienópolis criado pela Refúgios Urbanos, que indica nomes e informações de todos os principais (e mais bonitos) edifícios da área.
🔹Comer na Fioca🔹
Assim como livraria e caminhadas, o tempo do café é outra coisa que gosto de fazer sozinha. Já fui muito de escrever em café e biblioteca, mas de uns tempos pra cá esse se tornou um momentinho de desligar e ler um pouco. Meu bairro tem uma oferta bem generosa de bons cafés e espaços onde se pode ver a vida passar, e o Fioca é um que gosto muito porque os doces e salgados são amigos de gente que, como eu, vive com restrições alimentares: docinhos sem lactose e glúten, mas cheios de sabores e texturas. Veja também esse meu guia de cafeterias de São Paulo, escrito com colaboração de leitores!
📍 Fioca: R. Barão de Tatuí, 555 - Vila Buarque, São Paulo
🔹Ver filmes no Petra Belas Artes🔹
O centro expandido de São Paulo tem muitos bons cinemas de rua, mas o BA segue meu favorito para ir sozinha. Não me entenda errado: eu gosto de ir ao cinema com o namorado. Aquela coisa de sair do filme comentando o que achou ou deixou de achar, pensando no próximo. Mas o cinema solitário é uma coisa que faz parte da minha vida desde quando era adolescente nos anos 90 e cabulava aula para ver filme. Na época, assim como hoje, o Belas Artes é o escolhido por ser fácil de ir de ônibus, estar sempre mostrando vários filmes ao mesmo tempo, em suas seis salas, de blockbusters da vez a reexibições de clássicos.
📍 Petra Belas Artes: Rua da Consolação, 2423 - Consolação, São Paulo
🔹Curtir a rua na Mesclando de domingo🔹
Todo primeiro domingo do mês os restaurantes latinos de um trecho da Rua Sousa Lima fazem uma festa de rua, com comes, bebes, música e feira de produtos artesanais. É bom pra ir de galera, de casalzinho e também sozinha: chegue cedo, escolha sua mesa, peça uma cerveja e salteña do chef Erik Fernandes, que aprendeu a receita com a avó boliviana, e hoje é dono do ótimo Chévere, e deixe o domingo passar.
📍 R. Sousa Lima, 321 - Barra Funda, São Paulo
🔹Beber no Boca de Ouro🔹
Um bar para ir sozinha não pode ser qualquer bar. Tem que ser um bar onde não lancem olhares curiosos para uma pessoa sozinha no balcão, mas que também não impeça a conversa natural com outros bebedores que porventura estejam a fim de interagir. Ou seja: um lugar com atmosfera amigável onde ninguém vai te encher a paciência. O Boca de Ouro, com seu balcão de madeira e ótimos drinks por preços honestos, é esse lugar.
📍 Boca de Ouro: R. Cônego Eugênio Leite, 1121 - Pinheiros, São Paulo
🔹Me perder na Coleção Brasiliana🔹
Escondida no quinto andar do Itaú Cultural, há anos a exposição permanente da coleção da família Setúbal sobre a história do Brasil é um dos meus programas preferidos em São Paulo. Há mapas raros, moedas, gravuras e outros objetos datando desde antes de 1500 até a Semana de Arte Moderna de 1922. É de graça e você pode visitar trinta vezes e sempre encontrar algo novo. Além do mais, a escada cercada de gravuras de plantas e bichos do território brasileiro é um escândalo de linda.
📍 Itaú Cultural: Av. Paulista, 149 - Bela Vista, São Paulo
🔹Comer PF🔹
A refeição típica do paulistano apressado, sozinho ou em bando, é o prato feito: arroz, feijão, uma salada simples e uma "mistura" (bife, filé de frango, omelete). Qualquer disputa de "melhor pê-éfe" é uma falácia, porque o melhor é aquele que atende aos seus interesses rotineiros, ou seja, uma delicada equação de localização, preço, qualidade da comida e agilidade no atendimento. Pode ser o tradicionalíssimo Leiteria Ita, ali ao lado do Paissandú. E também pode ser o ótimo Ugues, em Higienópolis. Ou bar & lanches da esquina da sua casa ou trabalho. O meu pê-éfe favorito custa R$20, é servido em cinco minutos e fica na rua de casa, onde vou só com a carteira e um livro na mão e a brigada já me conhece pelo nome.
🔹Comer lámen no Aska🔹
Não sei há quanto tempo vou ao Aska, a mais tradicional casa de lámen de São Paulo, mas consigo dar uma ideia: na época eu nem imaginava um dia ser mãe, e hoje meu filho está na faculdade. Bota aí mais de vinte anos. Nesse tempo, aprendi que o melhor jeito é ir sozinha, sentar no balcão, comer rápido e vazar. Que é exatamente a proposta da casa. O melhor horário: bem cedo ou bem tarde. Hoje, existem várias (e ótimas!) casas de lámen em São Paulo, e o prato faz sucesso em versões adaptadas ao paladar local em todas as faixas de preço. Mas, para mim, o Aska ainda é o maior e melhor.
📍 Aska Lamen: R. Galvão Bueno, 466 - Liberdade, São Paulo
🔹Fazer compras no Kinjo🔹
Como moro no Centro, faz sentido usar esse, que é o mais antigo mercado municipal da cidade, como local de compras. É imbatível nos quesitos qualidade e preço, e não tem "golpe da fruta" como no "Mercadão", o irmão mais famoso (que fica na mesma rua). Além disso, o Kinjo Yamato tem uma porção de bancas e boxes de comida, como o delicioso Banca06, do chef Luiz Campiglia. São espaços dos funcionários do mercado e por quem está ali fazendo compras e quer comer algo bom e barato — não é uma "experiência instagramável" (e espero que continue assim!)
📍 Mercado Municipal Kinjo Yamato: R. Barão de Duprat, 400 - Centro Histórico, São Paulo
Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
Depois de tantos carimbos no passaporte e anos como viajante solo, Gaía nos conta o que mais chama sua atenção em São Paulo ainda hoje:
“A eletricidade cultural da cidade. Viajar bastante me abriu muito os olhos para o que temos em São Paulo — tanto que meu blog da época, em 2015, foi um dos primeiros a explorar a ideia de "ser turista na própria cidade". Considero que vivo em uma cidade com uma riqueza cultural que não perde nada para grandes cidades do mundo como Nova Iorque, Londres, Mumbai ou Cidade do México. O que temos são problemas do tamanho da cidade, muito agravados nos últimos anos.”
Gaía Passarelli é escritora e repórter com mais de vinte anos de experiência e passagens por MTV Brasil (repórter e apresentadora, 2010-13), BuzzFeed Brasil (editora-chefe, 2019-21) e atualmente é diretora de conteúdo para marcas e escreve sobre cultura na newstech Headline Brasil. Você pode conhecer mais sobre seu trabalho no livro de crônicas, Mas Você Vai Sozinha?, acompanhá-la semanalmente na newsletter
ou pelo IG @gaiapassarelli.Farol Verde
A dose semanal de arte e cultura fica por conta do Guia Paulicéia com curadoria da editora que vos escreve:
E você pode conferir outras experiências culturais do mês na edição da semana passada:
Até semana que vem!
Se você chegou até aqui, muito obrigada por nos ler!
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Amei o abre fiquei emocionada 🥰
Entrei hj nessa página e já amei!