Alguma coisa acontece... na sexta-feira 13
O centro, a saudade do centro, o olhar estrangeiro e a programação cultural de SP
Farol Verde
Sexta-feira 13 com ou sem terror, Carnaval antecipado e concertos gratuitos!
🎻 Ilumina Festival: O festival que nasceu em uma fazenda no interior de SP chega à sua 8ª edição com concertos GRATUITOS e solistas de 13 países diferentes! Há concertos na Sala São Paulo, no Teatro Clara Nunes em Diadema, numa fazenda em Mococa e até na montanha!
👋 Família Addams no CCSP: Maratona de filmes da Família Addams, dois clássicos da década de 90, no CCSP na sexta-feira 13! O 1º filme começa às 22h e o segundo à meia-noite. Entrada GRATUITA, com distribuição de ingresso 1h antes de cada sessão.
😈 Crianças Amaldiçoadas no MIS: É maratona de sexta-feira 13 com mais suspense que você quer? O MIS Jardim Europa faz maratona de terror com um elemento em comum entre os filmes: “crianças amaldiçoadas”. “O Anjo Malvado”, “Boa-Noite, Mamãe” e “Hereditário” em sessão a partir das 23h da sexta-feira 13. Ingressos custam R$20 (meia) e R$40 (inteira). Compra aqui.
🎥 Carnaval antecipado: Para quem não vê a hora de tirar o glitter do armário, já começaram a pipocar pela cidade blocos e eventos de Carnaval! Durante todo o mês de janeiro e começo de fevereiro, os blocos queridinhos do público, como Ritaleena, Tarado Ni Você e Explode Coração agitam o Studio SP, na Augusta. Ingressos a partir de R$40.
Meu heliotropismo particular
Por Henrique Moraes, produtor do @vivacultura_sp
Sento aos pés do Farol de Cacilhas, à noite. Dá para ver o Rio Tejo daqui. Adiante está o Oceano Atlântico, para onde meus olhos e mais partes minhas sempre se direcionam - um tipo de heliotropismo particular - que volta-se para São Paulo.
Tal como Gonçalves Dias, me exilei por opção e para fins similares - não estudo Direito. Mas, assim como o poeta, estou longe da minha terra natal não faz 1 ano. A distância te ensina muitas coisas, mas a principal agora é a perspectiva sobre São Paulo.
Experienciar outras cidades ajuda a ter noção sobre o que é São Paulo. Morar no centro expandido ou na região metropolitana de qualquer grande centro urbano do globo tem quase o mesmo efeito. Agora, quando se mora em São Paulo a vida toda e se muda do Brasil, fica mais fácil perceber as suas particularidades culturais.
Longe de querer trazer Terry Eagleton para definir tudo que a palavra cultura abarca - nem teria condições para tal -, pois são coisas demais e reflexões demais. Fiquemos com a raiz da palavra que vai de encontro ao plantar, semear, prestar culto e até proteger.
Daqui de onde vejo percebo São Paulo dessa forma: um local que fomenta cultura para proteger as pessoas que lá estão da concretude da vida corrida e adulta que todas as pessoas levam e, muitas vezes, nem queriam levar - só o fazem porque é imposto pela vida.
A vida de toda pessoa que vive e trabalha em São Paulo precisa de mais de 24h só para cumprir a demanda profissional e financeira. São Paulo é isso também. Entretanto, ela mostra muitas formas de você se (re)humanizar através da cultura - independente do que você naturalmente goste ou do que sua alma precisa para recuperar daquele dia mais difícil.
Ha primores aí que eu não encontro cá. Pode ser cisma minha por olhar o Tejo ao invés de algum lugar de São Paulo à noite. Pode ser um olhar fantástico sobre a cidade e, por isso, acho tudo bom - seja o concreto, a diversidade cultural, ou até mesmo o fato de estar longe.
Entre Drummond e Gonçalves eu vou edificando o tamanho que SP tem pra mim, e não me refiro aqui ao espaço físico ou territorial - afinal, é uma megalópole. São Paulo é dura e pune muita gente, mas também fura o concreto com parques, exposições, música, enfim, com vida. Saiba trilhar os caminhos que a cidade te dá e aproveitará muito do que ela tem a oferecer. São Paulo é selva, mas quem tá aqui já tem um guia.
Carta às pessoas que desconhecem o centro (mas fingem conhecê-lo)
Por Lu e Vi do @lgbtrip_
Algumas pessoas têm pavor do centro de São Paulo. Já reparou? Provavelmente, você tem algum conhecido que é assim ou pelo menos já conversou com alguém que demonstrou isso. Talvez você seja essa pessoa...
A gente sabe que esse medo excessivo do centro sempre rondou nossa vida. Mesmo que hoje ele não te acompanhe, em algum momento, ele já tentou entrar em você. Por conta própria ou influenciado por alguém.
O final de ano por aqui trouxe isso à tona novamente e aproximou da nossa bolha um determinado tipo de pessoa: aquelas que tem pavor do centro e precisam declarar isso aos quatro ventos para angariar novos fiéis.
As redes sociais têm esse poder, pelo bem ou pelo mal. Depois de publicarmos um vídeo com quatro lugares que podem ser conhecidos saindo da estação da Luz, comentários como “vá com escolta armada”, “tem nada de bonito lá” e “se conseguir não ser assaltado no meio do caminho, compre um foguete e solte-o” começaram a pipocar. Na mesma semana, presenciamos a mesma coisa em duas outras páginas que acompanhamos.
Veja bem... nós sabemos que a região exige seus cuidados com segurança – especialmente em um momento de crise econômica como o atual, que escancara ainda mais as desigualdades do país. E, sim, também sabemos que todo o centro de São Paulo deveria receber muito mais atenção do poder público, com políticas realmente efetivas para gerar mudanças naquela região.
O que não dá, porém, é pessoas que não frequentem esses espaços utilizem todas as oportunidades que têm para só ressaltar os aspectos negativos e, com isso, desencorajar a ida para esses lugares. Pior ainda é considerar o centro como uma massa homogênea, sendo que essa região é tão gigante e diferente que algo assim se torna impossível.
Para essas pessoas, que sabemos que não frequentam esses espaços exatamente pelo que postam em suas redes sociais, a Estação da Luz é a mesma coisa que a Praça da República. Que é a mesma coisa que a Catedral da Sé. Ainda que seja necessário andar cerca de 20 minutos de um desses pontos para o outro. É a mesma coisa que acontece com outras realidades distantes da nossa, que desconhecemos e não procuramos entender melhor: ou vai dizer que você nunca ouviu um “África” usado no sentido de um único país homogêneo e não de um continente inteiro super diverso?
Ao que parece, o centro de São Paulo se tornou aquele espaço totalmente negativo no imaginário de algumas pessoas: pisou lá, você já está em perigo! E nós, que vivemos (n)o centro, sabemos bem que a realidade é outra.
Na luta pela reconstrução desses cenários na cabeça das pessoas, talvez nossa principal ferramenta seja algo simples: a informação. Ou seja, resgatar a riqueza que tem nessa região aos olhos dessas pessoas. É claro que não podemos deixar de falar dos cuidados necessários, já que isso seria ingenuidade da nossa parte, mas que tal deixar o discurso de medo para os Datenas da vida?
E você, concorda com a gente ou tem outra visão sobre o tema? Conta aqui nos comentários e vamos bater um papo sobre isso!
Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
“O que sempre me encanta muito em São Paulo é o fato da descoberta. Eu acho que São Paulo tem esse lado que às vezes é um pouco difícil, porque ela não é uma cidade óbvia, é a cidade dos curiosos. Eu acho que para você se encantar por São Paulo, você precisa ser curioso. Quanto mais curioso, mais você consegue entender e perceber a beleza de São Paulo. A beleza está na sutileza, nos detalhes. (...) E eu acho que a melhor maneira de conhecer e gostar de São Paulo é caminhar pela cidade. São Paulo é uma cidade cheia de cantinhos interessantes. Você está caminhando e, de repente, vê uma ruela e, quando você entra, descobre um monte de casinhas lindas, um restaurante, um café, uma loja bacana… Não adianta querer conhecer e se encantar por São Paulo de dentro do carro, de dentro do ônibus, precisa pôr o pé no chão mesmo. (...)
Agora, falando sobre o olhar dos franceses, eu estou praticamente todo dia com eles, mostrando São Paulo para os franceses. E tem algumas coisas que praticamente todos me falam. Todo mundo acha São Paulo surpreendente! Se surpreendem com o verde de São Paulo. Não tem uma pessoa que não me fale isso. Eu acho que a gente tem a imagem de que São Paulo é muito cinza e quando você chega aqui, (é claro que depende um pouco dos bairros), mas em muitos bairros tem muita árvore e são árvores grandiosas. Não é um arbusto, são árvores enormes! A cidade é muito verde e é muito florida. Isso é outra coisa, eles ficam muito surpreendidos com as flores. Tem flor o ano inteiro em São Paulo! Na Europa as estações do ano são muito marcadas: outono cai a folha, inverno é frio, verão, primavera. Aqui a gente não tem as estações do ano marcadas dessa maneira, então você sabe que é verão quando tem uma flor que começa a nascer, no inverno tem o ipê. Cada momento a cidade tem flores diferentes, ela é florida o ano inteiro.
E a cultura eles acham incrível também. Nós que moramos aqui, a gente sabe que tem uma variedade incrível de museus e exposições em São Paulo, mas, por incrível que parece, um estrangeiro não tem essa imagem. Ele não sabe que São Paulo é uma cidade culturalmente super rica. E eles também se surpreendem muito com o fato de muita coisa ser gratuita! Na França isso é raro, praticamente tudo é pago. Nós aqui em São Paulo, os paulistanos em geral, não damos o valor a isso. O fato de ter tudo de graça parece normal e não é normal! Você sai de São Paulo, vai para Paris, que é uma grande capital cultural também, e você paga para entrar em todos os museus, você paga para ver praticamente todas as exposições. Raramente você tem acesso a lindas exposições gratuitamente como você tem em São Paulo e isso é uma coisa que o francês percebe na hora, se encanta e aproveita muito! Eles vão muito aos museus em SP, centros culturais. Eu diria que são essas três coisas que eles se surpreendem: a cultura gratuita, as árvores/o verde e as flores.”
Carô Besse é paulistana, nascida e criada aqui, mas sempre teve um pézinho na França também. Atualmente promove vivências culturais para francófonos em São Paulo. Você pode acompanhá-la e conhecer mais sobre o seu trabalho na página @manaca.ac.
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Eu já fui essa pessoa que morre de medo do centro sem nem saber direito onde é o centro de SP. O Viva São Paulo que me ajudou a descobrir outras facetas desse lugar tão rico. Sim, é perigoso. Andar na Paulista tb, atualmente... o segredo é, além de manter sua segurança sempre, se deixar ver além disso e descobrir os cantinhos do centro que representam tanto da nossa cidade. Obrigada pela reflexão!
Infelizmente é mais comum do que eu gostaria encontrar pessoas que morrem de medo do centro e sempre são pessoas que não frequentam a região. Claro, é preciso alguns cuidados, como em qualquer outro lugar da cidade (e ouso dizer que do mundo também!) e, para mim, uma das principais formas de mostrar para o poder público que queremos que a região central receba um olhar mais atencioso e políticas públicas sociais efetivas é ocupando o centro. Sempre frequento os equipamentos culturais do centro histórico e participo de projetos sociais na Praça da Sé e, com alguns cuidados básicos, nunca me aconteceu nada. Que possamos ver cada vez mais pessoas frequentando o centro e valorizando essa região tão culturalmente rica da cidade!!