Alguma coisa acontece: tinha uma obra de arte no meio do caminho
Uma reflexão sobre as intervenções artísticas urbanas e, claro, sugestões do que fazer em SP.
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No meio do caminho tinha uma obra. Tinha uma obra no meio do caminho
Por Alana Carvalho, editora do @vivasp_cultura
Sabe aquele quentinho no coração quando, em meio ao caos e exaustão do dia, você desembarca do metrô na sua estação de destino e escuta uma música conhecida sendo tocada por algum artista em apresentação solo por ali?
Ou, ainda, o brilho no olhar ao descobrir que estão pintando um novo mural no seu caminho de todo dia. A sensação é rápida, mas traz um lampejo de esperança e conforto.
Não à toa, alguns países do mundo receitam contato com a arte como parte do tratamento para depressão e outras doenças. A arte tem esse poder de nos tirar do lugar comum e nos transportar para outros tempos, momentos e situações. A “viagem” é rápida e muitas vezes imperceptível, mas vale a pena.
É por essas e outras que gosto tanto de intervenções urbanas! Sejam as esculturas permanentes da cidade, os cantores e artistas da Av. Paulista, ou a poesia urbana nos tantos stickers e frases espalhadas por aí! Ei, a cidade fala a todo momento, é você que não para para escutar…
Infelizmente é fácil demais cair no modo automático e normalizar o caminho do dia a dia com seu movimento caótico, desigualdade social, vai e vem ininterrupto e, claro, a fixação constante com a tela retangular que carregamos para cima e para baixo, ao invés de apreciar o caminho. A real é que essa máxima vale para o trajeto de cada dia, assim como para a vida.
Então, que a gente tenha sempre a arte e as intervenções artísticas pelo caminho para nos tirar do automático e nos lembrar que a vida é agora. Em um mundo de constante preocupação com o amanhã e a próxima entrega, viver no agora é praticamente um ato de resistência.
É, fácil falar, né, Alana? Quero ver colocar em prática e largar o celular, isso só para começo de conversa… Deixa eu reformular, então: que da próxima vez que encontremos uma obra de arte no meio do caminho, a gente suspire e se surpreenda da mesma forma que o entardecer de outono com suas cores nos encanta. E, mais importante ainda: que o encanto e o poder da arte sobre nós jamais seja normalizado.
👀 Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
Como público, passantes da cidade e apaixonados por arte, a gente bem sabe o encantamento e surpresa que uma obra de arte no meio do caminho pode causar. Mas, e quem faz arte e propõem intervenções artísticas? Para mostrar o outro lado da moeda, o artista Felippe Moraes conta um pouco sobre seu trabalho e sua visão sobre as intervenções artísticas em uma cidade tão grande como São Paulo:
“Em um território tão disputado como São Paulo, é cada vez mais importante a ocupação de espaços públicos por trabalhos e proposições artísticas. Elas nos fazem compreender esses lugares como ambientes de negociação, transformação e demanda social, permitindo que sejam ouvidas outras vozes que não somente as da especulação imobiliária e do policiamento urbano. Em uma cultura como a brasileira, em que as noções de público e privado são tão difusas, podemos utilizar essa característica como catalizadora de potentes experiências poéticas e discursivas. A cidade como criação coletiva, um ambiente de confronto, mas também de diálogo.
Para a a minha prática artística, o ambiente urbano é o mais potente campo de trabalho. É nele que se dão os encontros com os cidadãos e cidadãs que não costumam frequentar museus, galerias e espaços tradicionais de cultura. É a situação em que, enquanto artistas, estamos vulneráveis ao discurso coletivo e suas dissonâncias, onde os trabalhos ganham a potência de serem atravessados por vivências e origens diversas e incontroláveis. Nessas situações, a captura da atenção do público deve ser muito imediata, porque ela compete com a arquitetura, a publicidade e o passar do tempo inerente à circulação urbana. Nas minhas intervenções públicas, há sempre um apelo à memória coletiva, a dados culturais que nos unem como forma de acesso direto à subjetividade dos pedestres. Quando instalei o néon "Não deixe o samba morrer/acabar" em 2021 na Estação da Luz, eu recorria a essa nossa memória musical que atua como um dos nossos principais eixos de coesão cultural e social. Nesse sentido, era muito comovente ver trabalhadores e trabalhadoras indo em direção aos seus empregos e muitas vezes cantando a plenos pulmões o refrão da canção mencionada ao passarem embaixo da intervenção. Um grito de luta, de resistência, mas também da vida como experiência expandida de beleza e poesia. Lembrando que nossos corpos e existências não são meras forças de trabalho, mas potências vivas de transformação e expansão do mundo.”
Felippe Moraes vive entre São Paulo e Rio de Janeiro, é artista visual, curador de arte e um grande apaixonado pelo samba e pelo Carnaval. Sua pesquisa e trabalho navegam entre a espiritualidade, mitologia e ancestralidade, na busca do reencantamento do mundo. Você pode conhecer mais o artista e seu trabalho em @felippemoraes.
🚦 Farol Verde
Sua dose semanal de arte e cultura para inspirar o final de semana.
🎪 Festival Internacional Sesc de Circo: Respeitável público, o Festival Sesc de Circo segue até domingo, 25/06, com espetáculos, oficinas, instalação interativa e muito mais! A programação ocupa diversas unidades do Sesc pela cidade e há muita coisa GRATUITA! Você pode consultar a programação completa aqui.
🛍️ Bazar da Cidade na Casa Ema Klabin: Um casa-museu lindíssima que abriga o acervo da Ema Klabin, uma das maiores mecenas de arte que São Paulo já viu! Visitar a casa-museu já vale o passeio, mas se você precisar de mais motivos ainda, esse final de semana acontece o Bazar da Cidade no jardim do casarão! Pequenos produtores, música ao vivo e opções gastronômicas! O Bazar da Cidade acontece no sábado, 24/06, das 11h às 20h, e no domingo, 25/06, das 11h às 19h. Ah, a entrada é GRATUITA!
☕ São Paulo Coffee Festival: Quem mais concorda que o dia só começa depois do cafezinho? Para os coffee lovers de plantão, um festival inteirinho dedicado ao café ocupa a Bienal de São Paulo nesse final de semana (24 e 25 de junho)! O público poderá apreciar degustações e participar de oficinais interativas e sensoriais, além de competições de art latte. Os ingressos para a diária variam entre R$ 40 e R$80, mas seguidor do Viva SP tem 20% de desconto usando o cupom: spcfvivaspcultura. Para garantir o seu ingresso, é só clicar aqui.
📻 Exposição lúdica sobre o rádio: O Solar Fábio Prado, antiga sede do Museu da Casa Brasileira, está aberto ao público e com exposição nova! "Rádio: emoção no ar - imagens de uma história que você ouviu" é uma mostra lúdica e divertida que propõe uma viagem imersiva pela história do rádio no Brasil! Os ingressos custam R$10, com exceção das sextas-feiras, quando a entrada é GRATUITA para todos. A mostra segue em cartaz até 20 de agosto.
🎼 Cine São Pedro: O Theatro São Pedro apresenta o clássico filme de ficção científica Metrópolis, com trilha sonora executada ao vivo por instrumentistas da Orquestra do Theatro São Pedro! As récitas acontecem nos dias 29 e 30 de junho, 01 e 02 de julho e os ingressos custam R$15 (meia) e R$30 (inteira). Para garantir o seu ingresso, basta clicar aqui.
⚠️Ah, e está rolando uma ação em parceria com o Theatro São Pedro para ganhar 2 pares de ingressos para o Cine São Pedro. Eu, se fosse você, dava uma olhadinha nesse post aqui.
Tchau, adiós, bye bye!
Metade do ano já foi e dá para acreditar que passamos de 20 edições publicadas da Alguma Coisa Acontece? Na história do Viva SP | Cultura (ex-Viva Cultura) nenhuma das nossas newsletter durou tanto! 😯
Que venham mais 20, 40, 60 edições, pois assunto e histórias sobre São Paulo não faltam! Aliás, se você tiver alguma sugestão de tema ou quer compartilhar uma história com a gente, é só responder esse e-mail ou deixar um comentário.
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adorei seu texto, Alana! E a dica do Cine São Pedro foi sensacional! Vida longa para vcs!