Alguma coisa acontece: quando a arte nos encontra
Se a gente não não vai ao encontro da arte, ela dá um jeitinho de chegar até nós.
Farol Verde
Sim, tem festival esse final de semana, mas também tem muita programação boa no resto da cidade.
🎵 Ocupação Dona Onete: Dona Onete é um verdadeiro patrimônio do Pará! Ela fascina e perpetua a culinária, as crenças e as tradições com muito charme e ritmo através de sua música. A Ocupação Dona Onete, no Itaú Cultural, celebra a trajetória e obra da rainha do camrimbó e tem entrada GRATUITA. Até 16 de junho.
🧪 NÓS - arte e ciência por mulheres: A nova mostra do Paço das Artes apresenta a história de 60 mulheres como produtoras de conhecimento ancestral e científico, mas que nem sempre tiveram o devido reconhecimento. A exposição propõe tanto uma denúncia quanto uma ode à presença de mulheres nas mais diversas áreas do conhecimento. Entrada GRATUITA. Até 11 de junho.
🎭 Últimos dias - Bailado do Deus Morto: Últimos dias para assistir O Bailado do Deus Morto no Teatro Oficina! A peça de teatro modernista de Flávio de Carvalho foi censurada na década de 1930 e é agora apresentada em uma nova versão pela companhia teatral Uzyna Uzona. Somente até domingo, 26/03, e os ingressos custam R$ 30,00 (meia) e R$ 60,00 (inteira). Compra antecipada dos ingressos aqui.
🛍️ Feirinhas autorais/criativas: Cadê os loucos por feirinhas como nós? Se você também ama uma feirinha de pequenos produtores ou produtores criativos, boas opções não vão faltar esse final de semana. Tem Fair&Sale na Festa do Cacau no Instituto Biológico, Festival Jardim Secreto na Cinemateca e Feira Casa da Alice na Praça Ayrton Senna.
🎷 Lady Gaga in Jazz: A cantora e atriz Júlia Sanchez une sua pluralidade artística e apresenta o show Lady Gaga in Jazz em celebração ao aniversário de uma das maiores artistas da atualidade, a Lady Gaga. Na terça-feira, 28/03, no clube de jazz e blues Bourbon Street Music Club, às 20h30. Os ingressos antecipados custam R$35.
Os Sons dos Sins
Por Matheus Fontes, criador de conteúdo do @vivasp_cultura
O ano era 2021. Em julho, no intervalo entre ondas da pandemia que ainda não dava sinais de melhora, saí de casa com meu namorado para visitar uma exposição. Naquele momento, dentre as muitas perdas e dificuldades da quarentena, visitar os museus que estavam abertos ainda que com restrições já era um alívio imenso. Ter naquele mar de incertezas um momento de respiro fazia bem demais, então construímos esse hábito de ir pouco a pouco desbravando o que a cidade podia oferecer de vivência cultural mesmo naquele tempo tão difícil.
Neste dia, decidimos ir ao Instituto Tomie Ohtake. Era um espaço que conhecíamos pouco, e que naquele dia estava com uma mostra de tapeçarias lindíssimas de Iberê Camargo que nos chamou a atenção. Fomos, passeamos pelos andares, vimos a exposição e outras temporárias que estavam por lá. Quem já foi no Tomie (centro cultural), sabe que as salas expositivas maiores estão no andar de cima, e passamos lá um bom tempo. Descendo para voltar para casa, porém, vimos que uma salinha pequena tinha uma placa de outra exposição. Era a mostra “Os Sons dos Sins”, com obras de Tomie (artista). Entramos.
A sala pequena e escura tinha algumas gravuras de um lado e outro da parede, que conduziam até a última obra, posicionada ao fim do corredor. O quadro, todo branco e com pequenos relevos, contrastava com as cores das obras anteriores e com a própria ambientação do espaço – tudo parecia conduzir a ele e destacar sua diferença. Lendo a legenda, descobri que era uma das últimas obras que a já centenária Tomie havia feito em sua trajetória. Naquele momento, a sala foi banhada pela voz de Chico César, na canção Beradeiros:
“A contenteza do triste
Tristezura do contente
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente
São sons de sins, não contudo
Pé quebrado verso mudo
Grito no hospital da gente”
Por algum motivo, tudo aquilo me emocionou muito. Passei um tempo longo, quase infinito, olhando aquele quadro, sentindo aquela música, que naquele contexto pareciam conversar justamente sobre a fragilidade da vida, sobre os fins, sobre inícios, sobre recomeços. Tomie, artista conhecida pelo uso das formas e das cores, fez no final de sua trajetória uma obra toda branca. Parecia ali sintetizar a miríade de sua produção na maior das simplicidades. Chico cantava um país simples, que na mão do povo que trabalha cotidianamente, sabe a importância de recomeçar apesar de todas as dificuldades. Naquele momento triste, com o negacionismo e as perdas nos rodando por todos os lados, relembrar o quanto o brasileiro consegue se reerguer na simplicidade do cotidiano era essencial. Dor, esperança, vida, morte, inícios e fins. Chorar pelo Brasil com aquela tela parecia uma terapia, uma oração, um apelo, uma escuta – em última instância, um silêncio.
Voltei outras vezes à essa pequena sala enquanto a exposição esteve em cartaz, com sensações diferentes a cada visita. O quadro branco de Tomie parecia me convidar a repensar com serenidade os caminhos da existência, e saber a potência da simplicidade de cada momento, vivendo os presentes, abraçando os inícios e acolhendo os fins. Quis compartilhar essa lembrança porque, às vezes, uma experiência cultural nos pega de uma forma inesperada, e nas coisas mais singelas – um quadro, um verso de uma canção, uma cena de uma peça, um depoimento, uma frase de um livro. Não existem explicações racionais para todas essas vivências, então, que possamos estar abertos para acolher a poesia da cultura do cotidiano que se apresenta quando menos se espera.
Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
O Perfil SP de hoje é um pouquinho diferente, pois narra o encontro ao acaso que tivemos com o Black Drama, que voluntariamente parou para nos ajudar enquanto tentávamos filmar uma cena na ciclovia da Av. Faria Lima. Em meio às tentativas e erros de gravação, ele nos contou brevemente sobre sua vida e sua arte:
“Black Drama é meu nome artístico. Elias é meu nome.
As mulheres que me ensinaram, as mulheres lá na Ocupação (9 de Julho) que me ensinaram a fazer arte. (…) Às vezes as pessoas me dão dinheiro e eu compro as coisas para fazer minha arte. Você manda mensagem para a Hayge e conta que eu ajudei vocês? Ela não vai nem acreditar! (…)
Essas camisetas? Tem foto delas no mundo inteiro e com gente famosa! E foto minha com muita gente também! Todo domingo à tarde, eu estou lá na Ocupação 9 de Julho. Vocês vão lá me ver?
A gente tem que salvar a arte, porque é a arte que vai nos salvar (…).”
E não é que vagando pela internet, nos deparamos com a marca de moda periférica Alastra e descobrimos que o Black Drama é praticamente um embaixador e ícone da marca? Olha ele na Ocupação 9 de Julho:
A poesia dos encontros não planejados, na São Paulo nossa de cada dia! <3
São Paulo tá que tá!
É impressão nossa ou parece que a vida cultural em São Paulo está na velocidade 2.0? Aliás, não só a cultura, como a vida de forma geral está um verdadeiro “Deus nos acuda”… É o que dizem por aí: se a arte não salva, ao menos torna suportável.
Então, uma bela dose de arte para você! 🎨
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Math querido, seu texto me fez um bem danado! Muito obrigada! ♥
Que lindo encontro ♥ Existe amor em São Paulo! ♥