Alguma coisa acontece: no expresso turístico de Paranapiacaba
Você conhece o expresso turístico que sai da Estação da Luz com destino a Paranapiacaba?
Nota da editora: Paranapiacaba é recorrentemente um dos destinos mais procurados por quem deseja fazer um bate e volta no final de semana. Para além da neblina e clima de vila, a região conta com diversos festivais, atrações e jeitos diversos para se chegar lá. Uma das formas mais fáceis e interessantes é o expresso turístico da CPTM que completou 15 anos de operação agora em abril. Na edição dessa semana mergulhamos na vila inglesa e caminhos até lá. Boa leitura!
🛤️ Pelos trilhos da memória
Por Matheus Lima, produtor de conteúdo do @vivasp_cultura
Quem passa pela plataforma da estação da Luz aos fins de semana pode as vezes ser surpreendido com um trem bastante diferente estacionado por lá. Na Plataforma 1, diretamente do século passado, o Expresso Turístico reúne uma multidão que se programou por vezes com meses de antecedência para aquela viagem. Lidos os bilhetes, embarcamos em um vagão com largas e confortáveis poltronas que nos levam por um período de duas horas diretamente para o distrito de Paranapiacaba, atualmente integrado ao município de Santo André.
No trajeto, passa ao nosso redor as estações da linha 10 – Turquesa, até que se toma um caminho novo por entre as montanhas e as grandes paisagens verdes. Só o caminho já vale a viagem – um olhar diferente para os arredores de São Paulo, que nos faz pensar como era o horizonte percebido pelos moradores da antiga vila de Piratininga há alguns séculos. Ao fim do trecho, chegamos à estação de Paranapiacaba – o ingresso do Expresso contempla a ida e a volta para a Estação da Luz, com uma parada na Estação Santo André. O caminho feito pelos trilhos percorre a antiga estrada que ia até o litoral (e mais uma vez entendemos a perda de não ter, num país com as dimensões do Brasil, uma rede ferroviária bem consolidada).
Em uma primeira vista, não é de se estranhar que caracterizem Paranapiacaba como uma “vila inglesa pertinho de São Paulo”. De fato, muitos dos edifícios da parte histórica remetem à época da São Paulo Railway, que operava o trecho entre São Paulo e Santos. Passeando pelas ruas da Parte Baixa, muitos casarões apresentam placas informativas em suas entradas, permitindo vislumbrar um pouco como era o cotidiano daquele agrupamento de operários no início do Século XX. Vale a pena se programar para a visita guiada na Casa do Engenheiro – o Museu Castelo, assim como no Centro de Documentação em Arquitetura e Urbanismo, que conta com uma exposição permanente super informativa sobre a história da vila. Não deixe também de passar no Mercado e provar algum produto feito com Cambuci, especialidade da região – recomendo fortemente o sorvete e o licor! Paranapiacaba conta com um calendário de eventos anuais, como o Festival Gastronômico, o Festival de Inverno e a Convenção das Bruxas. Programar sua visita para quando alguma atividade dessas estiver rolando é bem legal.
Se a Parte Baixa coloca o visitante em contato direto com o dia a dia dos funcionários da São Paulo Railway da virada do XIX para o XX, cruzando-se a ponte temos um vislumbre do que é a Paranapiacaba dos dias de hoje. Na estrada do morro que culmina na Igreja, casinhas e comércios de dois andares se revezam em uma organização bem brasileira. Dali do alto do templo dedicado ao Bom Jesus, vemos o movimento das pessoas em seus afazeres cotidianos, circundados pelas montanhas da Serra do Mar. Naquele momento, pensei que não sou muito fã da caracterização de um lugar como “parado no tempo”. Em geral costuma-se dizer isso de espaços mais bucólicos, onde a experiência de vida parece ser realmente mais lenta, diferente do corre-corre diário das metrópoles. Mas essa forma de olhar a realidade local é um pouco injusta com o que se encontra – muito pelo contrário, o tempo flui também para além das centralidades paulistanas. E talvez seja justamente essa a beleza desses encontros com outras possibilidades de vida – entender que o ritmo a que nos submetemos diariamente não é regra, e que o contato com a natureza, com a comunidade, o olho no olho, são ainda vivências possíveis não tão longe daqui...