Alguma coisa acontece: no escurinho do cinema
... chupando drops de anis. Longe de qualquer problema, perto de um final feliz! Uma ode aos cinemas de rua e à cena audiovisual de SP.
A edição de hoje é especial sobre CINEMAS! Cinemas de rua, histórias que fazem rir de nervoso e um espiadinha na produção audiovisual da cidade. Pega sua pipoca, se acomoda e vem curtir a o cinema em São Paulo!
Farol Verde
Filmes para ver nos cinemas de rua, no museu, no parque ou mesmo em casa.
🌳 Cine na Praça (no parque, no caso): O Cine na Praça nasceu em 2011 na Praça Victor Civita, em Pinheiros, e organiza sessões de cinema ao ar livre GRATUITAS. O projeto cresceu e, atualmente, as sessões acontecem no Parque do Povo nas quintas-feiras, às 19h. Os próximos filmes são sempre anunciados na página oficial no Instagram.
🦖 Spielberg no CCBB SP: Grande retrospectiva dedicada a um dos diretores mais populares da história do cinema: Steven Spielberg! Ao todo são 31 longas-metragens de ficção do diretor, com ingressos a R$10. A mostra de filmes segue em cartaz no cinema do CCBB SP até 27/03 e os ingressos são liberados semanalmente (sempre na sexta-feira, às 12h). Programação completa e ingressos aqui.
🎥 Mais Spielberg: Nesse sábado, 11/03, o CineSesc exibe o Especial Indiana Jones, uma sequência de três filmes da franquia Indiana Jones: “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (1984) e “Indiana Jones e a Última Cruzada” (1989). Aliás, sabia que o segundo filme de Indiana Jones foi a produção de estreia do ator vietnamita Ke Huy Quan, favorito ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por seu papel em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”? Os ingressos para o Especial Indiana Jones podem ser comprados no site do CineSesc.
🍐 Mostra Marília Pêra: O MIS - Museu da Imagem e do Som - homenageia a atriz Marília Pêra com uma mostra de cinema até domingo, 12/03. Ao todo são 14 longas-metragens da década de 1960 até os anos 2000 que contaram com a artista no elenco. Entre os filmes estão: Pixote, a lei do mais fraco (1980), Jenipapo (1995) e Central do Brasil (1998). Os ingressos são GRATUITOS e devem ser retirados na bilheteria do MIS uma hora antes de cada exibição. Programação completa aqui.
🎬 OJU - Roda Sesc de Cinemas Negros: A mostra acontece de 15 a 22 de março no CineSesc, com mais de 50 filmes realizados por cineastas negras e negros. Além das exibições de filme, ainda rolam debates, sessões especiais e encontros com profissionais do cinema no CineSesc, Sesc Belenzinho e Sesc Vila Mariana. A mostra ressalta a importância histórica do audiovisual para a decolonização do olhar. Para acessar a programação completa, basta clicar aqui.
🚗 Old but Gold: Pulp Fiction, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Cisne Negro, Poderoso Chefão e outras tantas joias (muito melhores do que as da ex-primeira dama), ao lado de filmes que estão na disputa pela estatueta do Oscar nas próximas semanas no Cineclube Cortina. E, vale lembrar que o esquema do ingresso é aquele “pague-quanto-puder”.
🛋️ Para ver em casa: O CCSPlay, o streaming gratuito do CCSP - Centro Cultural São Paulo - apresenta a mostra O Cinema do Futuro de Kiyoshi Kurosawa, um diretor nada convencional e muito conhecido por seus primeiros trabalhos ligados ao terror e suspense, até 15/03. E, para os cinéfilos de plantão, uma boa notícia: a newsletter
, da Gaía Passareli, junto com o Mubi, estão oferecendo 30 dias de graça para conhecer a plataforma de filmes.A personalidade de cada um
Por Alana Carvalho, editora do @vivasp_cultura
Verdade seja dita: em tempos de lançamento dos filmes nos streamings poucas semanas após a estreia nos cinemas, todo mundo acaba pensando 3 vezes antes de sair de casa e encarar uma sala de cinema. Some a isso o fato da maior oferta de salas de cinema da atualidade estar atrelada aos shopping centers (que, inclusive, não param de pipocar pela cidade), então, sim, os cinemas de rua são símbolos de resistência em meio à velocidade, frieza e, muitas vezes, falta de poesia de São Paulo.
É até difícil imaginar que, um dia, os cinemas de rua do centro reinaram absolutos e ganhavam (disparado) em preferência do público em relação à TV e aos jogos de futebol.
Pode ser birra minha com os shopping centers, esses lugares-não-lugares com piso liso e luz artificial, mas os cinemas desses grandes conglomerados comerciais são todos… iguais. Tanto faz o shopping, a experiência de assistir um filme em qualquer um deles será igualzinha, sem tirar e nem pôr.
Já os cinemas de rua, aaaah, pode ter certeza que você nunca vai confundir um com o outro! Os cinemas de rua têm personalidade. Tem aquele que você come croissant e não pipoca enquanto assiste o filme, o que tem espreguiçadeiras como assento ou sofás duplos, o mais antigo da cidade e o mais novo.
Então, para instigar sua curiosidade e te mostrar como cada um dos cinemas de rua, para além de manterem viva a memória do audiovisual em São Paulo, têm seu próprio jeitinho de ser, compartilho abaixo alguns cinemas para ter em mente da próxima ver que quiser ver um filme fora de casa:
🔹PETRA BELAS ARTES🔹
Foram inúmeras mudanças de nome, fechamentos, incêndio, reaberturas, tombamento histórico, destombamento histórico (pasmem!), novo tombamento, mobilização popular, abaixo-assinados, manifestações, quase abandono, renascimento e revitalização! Muita coisa já rolou na esquina da Consolação com a Paulista desde 1956 até hoje...
Atualmente, com patrocínio master da cerveja Petra, a programação é variada e conta com uma série de mostras, festivais e programações especiais, como o Noitão, uma maratona de filmes na madrugada (com direito a café da manhã para quem aguentar), ou as Noites de Quizz (sério, recomendo! É divertido demais!).
📍 Petra Belas Artes - R. da Consolação, 2423 - Consolação, São Paulo
📋Programação
🔹CINESALA🔹
Símbolo de resistência, é o cinema de rua mais antigo da cidade. Fundado em 1962, nos anos áureos da Cinelândia foi eleito o cinema mais elegante de São Paulo.
Entre altos e baixos, o cinema sobreviveu a oito mudanças de nome, seis administrações, diversos patrocínios, cinco reformas, dois anos de inatividade, mas, enfim, resistiu e segue resistindo! Atualmente, a Cinesala mantém poucos filmes em cartaz, mas sempre escolhidos a dedo, a fim de garantir a qualidade. Além disso, outro grande diferencial são os sofás que servem como assento nas duas primeiras fileiras das salas e são super confortáveis, além, claro, do Barouche, no hall de entrada, que garante bons drinks antes da sessão.
📍 Cinesala: R. Fradique Coutinho, 361 - Pinheiros
📋Programação
🔹RESERVA CULTURAL🔹
Quase escondido no térreo do Edifício Gazeta (tanto que originalmente se chamava Cine Gazeta), na Av. Paulista, é daqueles lugares que, quem não conhece, fica na dúvida por onde entra. rs
A programação sempre dá espaço para produções fora do circuito norte-americano, então é uma ótima opção para ver filmes franceses, japoneses, indianos e por aí vai, além, claro, dos indicados a melhor filme estrangeiro no Oscar. Ah, e um dos charmes do Reserva Cultural é a possibilidade de assistir as sessões comendo deliciosos croissants e pan au chocolat.
📍 Reserva Cultural: Avenida Paulista, 900 - Bela Vista
📋Programação
🔹CINECLUBE CORTINA🔹
Um antigo estacionamento, numa travessa da Praça da República, que virou cinema! Quer conto de fadas moderno mais legal que esse? Espreguiçadeiras e arquibancada com almofadas acomodam os espectadores, enquanto o telão exibe filmes do circuito atual, ao lado de filmes clássicos escolhidos criteriosamente. O espaço possui, ainda, um bar e um restaurante e, para não deixar a vibe de cinema de lado, a carta de drinks é inspirada em filmes famosos e o acesso para o cardápio fica escondido dentro de antigas capas de filme VHS. Nostalgia pura que ganha o coração de qualquer um nascido nos anos 80 ou 90!
📍 Cineclube Cortina: R. Araújo, 62 - República
📋Programação
🔹CINE SATYROS BIJOU🔹
Antigo Cine Bijou, foi o o primeiro cinema de arte do país e, após um período de mais de 10 anos desativado e com outros usos, reabriu em janeiro de 2022 sob direção da companhia de teatro Os Satyros.
Cinema histórico, que durante a ditadura militar anunciava filmes clássicos na programação, mas exibia produções censuradas pelo regime. Mantém as poltronas vermelhas originais e a essência de ser ponto de encontro de cinéfilos. A programação inclui produções nacionais, filmes artísticos e longas que não chegam ao circuito comercial.
📍 Cine Satyros Bijou: Praça Franklin Roosevelt, 172 - Consolação
📋Programação
🔹CINE LT3🔹
Autodenominado “um cinema de bairro como antigamente”, daqueles onde se é atendido pelo nome e te faz sentir em casa. O espaço em Perdizes tem apenas 35 lugares e poltronas de mais de meio século que vieram de uma sala desativada em Franca. Atmosfera retrô e nostálgica, mas com qualidade de imagem e som. O cinema foi inaugurado em agosto de 2022 e prioriza produções de arte e nacionais, de forma a fortalecer a cultura audiovisual brasileira.
Além das sessões semanais, o Cine LT3 promove cinedebates, sessões de Cinema&Vinho e outras programações especiais.
📍 Cine LT3: Rua Apinajés, 135a - Perdizes
📋Programação
🔹CINE MARQUISE🔹
O cinema do Conjunto Nacional existe desde 1963, mas passou por poucas e boas de lá para cá. Fundado como Cine Rio e com uma única sala que comportava cerca de 500 lugares, o local já passou por um incêndio, várias administrações, períodos de inatividade e mudanças de nome. Foi sede histórica da Mostra de Cinema de São Paulo por décadas e de onde veio a denominação de "cinema dos cinéfilos".
Reaberto em 2021 com o atual nome, Cine Marquise, atualmente tem uma das maiores salas de cinema do estado de São Paulo e as poltronas são super confortáveis. Como o espaço possui patrocínio da Sabesp, qualquer pessoa que apresentar uma conta recente da Sabesp paga meia entrada.
📍 Cine Marquise: Av. Paulista, 2073 - Cerqueira César (dentro do Conjunto Nacional)
📋Programação
Claro que ainda existem outros cinemas de rua por São Paulo (e que bom que eles existem!), como o CineSesc, Espaço Itaú de Cinemas, SPCine Olido e o Playarte Marabá (antigo Cine Marará). Cinemas históricos ou inaugurados recentemente, sempre tem alguma história por trás e oferecem experiências humanas e reais, nada daquela coisa pasteurizada dos cinemas de shopping.
Em tempos de Oscar, quando se fala tanto no circuito cinematográfico, vale olhar com carinho para a programação dos cinemas de rua e escolher conscientemente onde investir o dinheiro do seu ingresso.
No escurinho do cinema
Por Roberto Pujol, crítico de cinema
Houve uma época em que ir ao cinema era um programa muito mais lúdico e menos previsível do que é hoje. Muitas vezes uma visita à sala escura podia fazer você trombar com acontecimentos inesperados, divertidos ou até mesmo bizarros. Falo de um tempo em não existiam os multiplex, onde tudo é controlado, programado, seguro, chato. De quando os cinemas estavam nas ruas e não dentro dos shoppings. De quando era permitido entrar no meio da sessão e assistir ao resto do filme na sessão seguinte. De um tempo em que sempre havia um cinema perto de você, mesmo nos bairros residenciais.
Na avenida Paulista a oferta era generosa. A cada duas ou três quadras de sua extensão havia salas enormes e confortáveis que iniciavam suas atividades a partir das 14 horas e terminavam com a sessão das 22 horas - e da meia-noite na sexta e no sábado. Estudantes do Colégio Objetivo costumavam lotar os três cinemas que habitavam o mesmo prédio no número 900 da badalada avenida: Gazeta, Gazetinha e Gazetão. Logo ao lado, nas salas do Top Cine, e do outro lado da rua, onde estavam instaladas as salas Gemini 1 e 2, a frequência dos jovens também era predominante.
O público mais intelectualizado, ávido por filmes de arte, se aglomerava nas bilheterias das várias salas do Belas Artes, na Av. Consolação. Havia também os tradicionais Cine Astor e Cine Rio, no Conjunto Nacional, e o Bristol e Liberty no Center 3. Nos cinemas do centro a vantagem era o ingresso mais barato. Mas era preciso ir preparado, porque coisas estranhas aconteciam por ali. Certa vez, avistei um camundongo carregando na boca um copinho de papel. Não sai da sala, mas assisti ao filme com as penas cruzadas, como se estivesse fazendo ioga. Isso não foi nada comparado à ratazana gorducha que vi rebolando pelo corredor de um cinema acima de qualquer suspeita. Outra sessão fazendo ioga. Eu mesmo fazia o que não devia. Lembro que no cine Comodoro, localizando no fim da Avenida São João e famoso por sua tela imensa, rolou até pizza e refrigerante de um litro com os amigos para enfrentar 4 horas de maratona de Ben-Hur - o que talvez explique a presença dos ratos.
Para os cinéfilos foi uma época de martírio. Qualquer ciclo de filmes clássicos era um acontecimento. Na falta deles, o jeito era correr para as duas salas do Cine Biju, ao lado da Praça Roosevelt, onde eram exibidas obras antigas de Bergman, Buñuel, Fellini, Godard, Sam Peckinpah, Antonioni, Polanski... Outro programa obrigatório era a badalada “Sessão Maldita” no Cine Marachá, localizado no fim da Rua Augusta. Uma única sessão, sempre à meia-noite, exibia tesouros como A Dança dos Vampiros, Ensina-me a Viver, Repulsa ao Sexo, entre outros.
Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
“O universo da produção audiodivisual em São Paulo cresce a cada ano. São produções de vários gêneros, linguagens e para plataformas bem diferentes. Há uma grande concentração de profissionais vindos de todo o país e que residem aqui em São Paulo. São inúmeras produtoras também, que fazem conteúdo desde o cinema, produções para a TV, para Youtube…
E, por exemplo, muitos filmes são gravados em São Paulo, mas não só de produtoras daqui. O (São Paulo) Film Commission faz com que muitas produtoras de fora, gringas mesmo, acabem filmando aqui e isso também é importante pra gente. Muitas animações, a maior parte das séries de animação infantil, infanto-juvenil, são feitas aqui em São Paulo.
Tem muitos realities (show) que são gravados aqui, até porque a maior formatadora de realities do mundo tem uma sede em São Paulo.
Acho que vale ressaltar também que esse polo (audiovisual) em São Paulo, essa concentração aqui, está em função, claro, das grandes emissoras de TV aberta, né? Mas eu acredito também que é por causa dos financiamentos e editais, que fazem com que essa economia gire, para que essa economia criativa se movimente. É em função desses editais, desses financiamentos, que a gente tem um crescimento de produções originais que vão para fora. Isso é muito importante porque, de certa forma, elas oportunizam muito que a gente conheça vários talentos, né?
Do que eu já trabalhei, projetos infantis e infanto-juvenis tem um espaço no meu coração. Um exemplo, é a série SOS FADA MANU, que fui produtora executiva e coordenadora de conteúdo, e o PROGRAMA DA MAISA (roteirista-chefe).”
Vanessa Remonti trabalha há 20 anos no setor audiovisual e já teve trabalhos indicados ao Emmy, Oscar, Cannes e outras premiações. É produtora, roteirista, apaixonada pelo universo das produções infantis e infanto-juvenis, além de mãe de 4 doguinhos fofos e arteiros.
Lugar de encontro, lugar de resistência
Mais do que apenas um lugar para ver filmes, os cinemas de rua são espaços de encontro e guardam muita história. Está nas nossas mãos valorizar essa memória e fazer usos desses espaços.
Esperamos que as reflexões e histórias te abracem e te acompanhem nesse final de semana de Oscar. Essa foi a 1ª edição especial que fizemos e esperamos que você tenha gostado!
A edição de hoje é um oferecimento único e exclusivo do Viva São Paulo | Cultura porque nos deu na telha, maaaaas poderia ser em parceria com alguma marca ou iniciativa da área. Então, já fica a dica, caso queira anunciar na Alguma Coisa Acontece, é só entrar em contato com a gente respondendo este e-mail ou direto pelo vivacultura@dicaviva.com.br.
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Fui muito a cinemas de rua em São Paulo. Assisti "E o vento levou" no Comodoro. Adorava os cinemas do Conjunto Nacional e do Center 3 em frente. E havia sempre uma agenda semanal nos Gazetas ou nos Geminis.