Alguma coisa acontece: nas festas italianas em São Paulo
Entre histórias, macarronadas, ficazzellas e antepastos da Festa de São Vito
Por dentro das festas italianas de São Paulo
Por Alana Carvalho, editora do @vivasp_cultura
Todo mundo que mora em São Paulo certamente já escutou a respeito (e até frequentou) alguma das tradicionais festas italianas da cidade. Festa da Achiropita, San Gennaro, Casaluce e, a que conheci recentemente, Festa de São Vito.
Brás, Bixiga e Mooca. Cada festa tem o seu território, sua comunidade e sua legião de fãs.
Em junho recebi o convite do Juan para conhecer a Festa de São Vito e conversar com as mammas responsáveis por tantas das delícias servidas. Como eu não perco a oportunidade de conhecer uma boa história, foi assim que me vi, em um domingo à noite, dentro do espaço da Associação São Vito no Brás.
Em meio à macarronadas, grandes panelas de molho, antepasto, ficazzellas, ficazzas e um clima de muita, mas muita amizade, descobri um universo familiar, cheio de afeto e tradição. Os cerca de 150 voluntários que estão ali e fazem a magia acontecer estão longe de serem novos na casa. Tem gente que trabalha voluntariamente na festa há 20, 30, 40 anos!
Se eu estava em busca de histórias, certamente as encontrei na Festa de São Vito! Teve a vez que alguém esqueceu de tirar a aliança na hora de fazer a massa de ficazza e, quando se deu conta, cadê o anel? Tem a família que já está na 4ª geração ajudando nos preparativos e a cantora que lembra de quando a festa ainda tinha chão de terra batida.
A Festa de São Vito é a segunda mais antiga da cidade e acontece desde 1918, ou seja, são 105 anos de celebração e o mais incrível de tudo é que há registros e documentos comprovando esse centenário! Surreal, né?
Foi muito bonito ver o carinho que todos têm pela festa e como o clima é o de uma grandiosíssima família. Claro, como em qualquer família, há brigas, zoeria e desentendimentos, mas uma coisa me foi absolutamente nítida: juntos eles fazem tudo acontecer.
Fui embora do Brás leve, com o coração quentinho e muito bem alimentada! Se você ainda não conhece a Festa de São Vito e ficou interessado, vale lembrar que esse é o último final de semana e dá para comprar o ingresso antecipadamente para a Cantina.
No caso de dúvidas, vale assistir esse vídeo que fizemos contando sobre a diferença entre a Praça de Alimentação e a Cantina. A São Vito já ganhou um cantinho especial no meu coração e só resta uma dúvida: depois que a festa de 2023 encerrar, onde é que eu encontro ficazza em SP para comer, hein? 😋
👀 Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
Que honra conversar com as duas mammas mais antigas da Festa de São Vito! Primeiro, a “big boss” dos doces italianos, Dona Neide:
“Conheci meu esposo numa das procissões de São Vito. Casei na São Vito, batizei meus filhos na São Vito, fiz festa de 40 anos na São Vito e bodas de ouro na São Vito.
É uma vida inteira e muita lembrança do coração, né? Comandar as mammas não é tão difícil, mas, às vezes tem uns probleminas. Eu venho da geração das mammas mais velhas, então elas eram mais teimosas… cada uma tinha o seu jeito, mas elas me respeitavam. Não tenho queixa de nenhuma, me respeitavam pra caramba. Eu era a mais novinha e hoje fiquei só eu e uma outra senhora que era dos tempos antigos, a Dona Licena.
Essa foto aqui é das antigas e dá para ver todas as mammas. Eu estou ali, olha lá:”
Dona Neide fez sua vida dentro da São Vito! Seu marido e seu sogro já foram presidentes da festa e, hoje em dia, seu filho é quem está no cargo. Ela comandou a linha de frente durante muito tempo e, atualmente, coordena a nova geração de mammas.
Aproveitei também para trocar uma palavrinha com a Dona Licena, que, como Juan me contou, é uma legítima mamma italiana:
“Agora as mammas ficaram como relíquia. Tem muita gente que vem ajudar, muita gente trabalhando.
Eu trabalhei 40 anos na festa. 40 anos que eu cozinhava, fazia o molho todo dia… Agora tem muitas pessoas, mas no nosso tempo a gente cozinhava, limpava… tudo fazia! Na hora servia, se servia e servia tuto!
Para o molho tem que cozinhar um bom tomate. É tudo tomate, não tem lataria (produto industrializado) aqui. O molho é uma fórmula (receita) que as nossas mães ensinaram, nós trouxemos aqui e deu um grande sucesso.
E o amor! É preciso o amor, a dedicação, a paciência… fazer as coisas tudo hoje, né? E não é só ‘vai isso, vai aquilo e vai aquilo’. Tem que esperar o momento certo, porque o cozimento de uma coisa coisa, né, tem isso. É muito importante.”
Apesar de ficarem mais quietinhas nos tempos atuais, Dona Licena e Dona Neide seguem como parte importante da São Vito e é possível observar de longe o carinho e respeito que todos tem por elas. Uma coisa é certa: enquanto for possível, as duas seguirão acompanhando a Festa de São Vito ano a ano.
🚦 Farol Verde
Recomendamos a leitura da edição extra do Farol Verde enviada ontem com um compiladão de experiências culturais para ficar de olho até o final do mês:
Outra boa sugestão de leitura é o roteiro com 11 lugares fora do óbvio para conhecer a história de São Paulo que escrevi para o Guia Paulicéia da newsletter
:E, para quem quiser acessar outras edições especiais do Guia Paulicéia, como o 11 restaurantes no Bom Retiro ou o 11 cafés para tomar em São Paulo, tem um free trial especial de duas semanas. É só clicar aqui. 🙂
Até semana que vem!
Uma edição mais curtinha, já que teve edição extra do Farol Verde essa semana.
Se você leu as duas edições da Alguma Coisa Acontece essa semana, nosso MUITO OBRIGADA! Aliás, se quiser aproveitar e comentar se está achando funcional ou não essas edições extras com o quadro Farol Verde, é só deixar aqui embaixo nos comentários ou responder diretamente este e-mail. :)
Quer nos ajudar a fazer a Alguma Coisa Acontece chegar até mais gente? Não deixa de indicar para os amigos!!
A Alguma Coisa Acontece é a newsletter gratuita do canal autoral e independente Viva São Paulo | Cultura e reúne histórias, causos, reflexões, experiências culturais e o que fazer em São Paulo. Afinal de contas, sempre acontece alguma coisa em SP!
Delícia de festa e quanta história nesses 105 anos de São Vito!