Alguma coisa acontece: nas bancas de jornal que resistem em SP
Qual sua memória com as bancas de jornal?
Nota da editora: Jornal impresso, Almanacão de Férias da Turma da Mônica, revista Capricho, as coleções especiais da Folha aos domingos. As memórias com as bancas de jornal são muitas e, com certeza, você tem alguma também. De presença praticamente garantida a cada esquina no passado, atualmente é bem mais difícil encontrar as poucas bancas de jornal que ainda resistem nas calçadas de São Paulo. E, ainda mais desafiador, é encontrar as que nãos substituíram as revistas por capinhas de celular, carregadores e produtos de loja de conveniência. Sim, os tempos são outros e entendemos a necessidade de sobrevivência e pagar contas, mas não deixa de dar aquele aperto no coração ver as prateleiras que antes eram forradas de publicações impressas tomadas por retângulos de plástico colorido.
Assim, na edição dessa semana da Alguma Coisa Acontece, trazemos uma ode às bancas de jornal e à leitura, além de algumas bancas literárias que resgatam um pouquinho do sentimento de encontrar publicações para levar para casa.
📰 Pelas bancas da nostalgia
Por Gabriela Souza, redatora do @vivasp_cultura
Eu amo ler, sempre amei. Às vezes, me pergunto de onde essa paixão vem, mas o que me intriga, principalmente hoje em dia, é saber como manter essa chama acesa. Quando eu era bem criança, minha casa e minha escola sempre tiveram muitos livros, canções e poesia à disposição, era fácil saciar minha sede por páginas.
Assim que comecei a aprender a ler, fui apresentada à (pasmem!) biblioteca da escola! Sério, era uma sala cheinha de prateleiras com livros e mais livros de todos os tipos e tamanhos, e era tudo meu! Sonho até hoje em ter uma biblioteca em casa pois a sensação de estar num ambiente rodeada de histórias é simplesmente indescritível. Mas embora tivesse muitos livros em casa, eu não tinha uma biblioteca lá. E eu queria muito.
Daí, um dia qualquer, saindo da padaria depois de um café da manhã com meu padrasto, eu avistei… pera, o que era aquilo? Não era uma biblioteca. Não era uma livraria. Não era dentro, e nem fora. Era… poxa, eu não tinha palavras para nomear aquele lugar estranho. Fui informada então que aquilo se chamava BANCA. Era onde os adultos compravam as notícias todo dia. Lembro claramente do riso que meu padrasto não conseguiu esconder ao ver minha empolgação com um lugar só para comprar revistas e jornais. Eu já tinha visto e usado muitas revistas e jornais, principalmente para fazer colagens para a escola, mas nunca imaginei de onde essas publicações vinham.
E naquele dia eu ganhei um presente incrível: a possibilidade de adquirir novos materiais de leitura a metros da minha casa! Conforme eu cresci, as bancas dos meus caminhos se tornaram verdadeiras aliadas, entre gibis, mangás, revistas e álbuns de figurinhas, eu estava praticamente no céu. Quantas semanas eu não economizei o dinheiro do lanche da escola para gastar na banca? Spoiler: todas.
Viciei muitas amigas em bancas - aliás, a própria editora aqui do Viva já se perdeu mais de uma vez circulando pelos bairros comigo atrás de bancas para comprar mangás e figurinhas! Tem gente que consegue voltar ao passado com o cheiro de um bolo, de um perfume… eu consigo voltar ao passado facilmente com o cheiro de uma banca! Não é o cheiro do jornal, nem da revista, nem do plástico, nem da rua… é um misto nostálgico que me transporta para uma época onde eu preferia ler a revista Recreio a de fato correr no recreio da escola, uma época da minha vida em que, na minha cabeça de hoje, era tudo tão mais fácil. Inclusive o tempo para sentar e ler.
Hoje, preciso batalhar por esse tempo. Mas tenho a sorte de ter uma banca que ainda resiste, ao contrário de tantas outras, na frente do meu trabalho. Eu amo que existem lugares como as bancas, que reúnem tanto conhecimento e possibilidade num espaço tão pequeno. E todo dia, quando passo na esquina do meu trabalho e olho aquela banca, me lembro da necessidade de parar e curtir um momento de leitura. Me lembro da Gabriela que parava tudo para devorar uma revistinha Passatempo ou um livro da Turma do Gordo (esse nome não é mais aceitável para uma série infanto-juvenil, é?). E essa Gabriela me lembra que ela ainda está aqui, que ela resiste contra tudo e todos nessa vida corrida de São Paulo, assim como aquela banca. E que ainda é possível parar para ler, mesmo no meio do caos.
🚦 Farol Verde
Sua dose semanal de arte e cultura
Depois do guia com portinhas para descobrir e explorar em SP de algumas edições atrás, hoje trazemos 3 pequenas livrarias em formato de banca na região central e que são os lugares perfeitos para encontrar publicações independentes e artes para levar para casa.
🔹BANCA TATUÍ 🔹
Um espaço de publicações independentes em Santa Cecília, com livros, prints, zines e arte gráfica. A banca foi criada pela Editora Lote 42, mas reúne trabalhos de mais de 200 editoras, coletivos e artistas independentes de várias regiões do Brasil. Ah, e o balanço é um super charme à parte! 🖤
📍 R. Barão de Tatuí, 275 - Vila Buarque
⏰ Segunda a sábado, das 10h às 19h. Domingo, das 11h às 17h.
👉🏾 Mais informações no site oficial ou em @bancatatui
🔹BANCA CURVA🔹
Com uma proposta diferente de uma banca tradicional, na Banca Curva é possível encontrar zines, livros, gravuras e objetos criativos de artistas, designers, coletivos e pequenas editoras do Brasil e da América Latina. Na dúvida, pergunte à simpática Laura pelo que levar. :)
📍 R. Dr. Cesário Mota Júnior, 340 - Vila Buarque
⏰ Quarta a sexta, das 13h30 às 17h30. Sábados, das 12h30 às 17h30.
👉🏾 Mais informações no site oficial ou em @bancacurva
🔹A BANCA DE LIVROS, ARTE E CULTURA🔹
Uma banca que mais parece uma livraria de calçada, é assim que A Banca de Livros, Arte e Cultura se apresenta. O casal à frente do projeto, Audrey e Iúri, idealizaram uma banca com prateleiras coloridas e muito afeto, trazendo todos os sábados, às 10h30, contação de histórias com o próprio Iúri, ou recebendo autoras e autores, ilustradores, oficineiros, artistas e vários outros convidados. Sabe aquele passeio gostoso para fazer numa manhã de sábado e levar as crianças junto? Então!!🧸
📍 R. Alagoas, 112 - Higienópolis
⏰ Quarta a sábado, das 10h às 16h.
👉🏾 Mais informações em @abancadelivros
E você, tem alguma memória com as bancas de jornal da cidade?
Esperamos que essa edição bata de forma tão nostálgica em você como bateu em nós! ❤️
Lembra de alguma banca de jornal icônica de São Paulo ou alguma banca literária que não citamos aqui? Manda para a gente pela caixa de comentários abaixo ou responde diretamente esse e-mail. :)
E se você chegou até aqui, muito obrigada por nos ler! Semana que vem a gente volta com mais causos, experiências culturais e lugares para conhecer em SP!
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A Alguma Coisa Acontece é a newsletter do canal autoral e independente Viva São Paulo | Cultura e reúne histórias, causos, reflexões, experiências culturais e o que fazer em São Paulo. Afinal de contas, sempre acontece alguma coisa em SP!
Que lindo esse texto da Gabi! Tb tenho muitas lembranças significativas com bancas de jornal. Lembro de ir comprar figurinhas, gibis e até revistinhas das Chiquititas para saber o que ia acontecerna novela... rs (entreguei total a idade aqui).
Ainda existe uma banca de jornal pertinho da casa dos meus pais que pretence ao Seu Antônio. Quando alguém ia à banca sempre falava: "vou ali no Seu Antônio".
Obrigada pelo texto! Fez meu dia começar mais feliz!
Hoje vocês me transportaram pra minha pré-adolescência, que foi quando também descobri minha primeira banca. Queria lembrar o nome do moço que virou meu amigo, que me via toda semana gastar minhas pequenas economias, com livrinhos que eu lia em dois dias... Senti saudades da biblioteca da escola, dos livros em promoção no Submarino, de viver pra ler e me sentir viva lendo. Hoje também luto por cada mísero momento de leitura, me rendi ao kindle apesar de amar papel, porque carregar no ônibus é mais prático, e sigo assim, eterna amante de outros mundos, me agarrando a qualquer chance de sair do meu. Obrigada por hoje <3