Alguma coisa acontece: na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Uma ode aos cinemas de rua e destaques da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Nota da editora: Na semana de abertura da tão aguardada Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, celebramos os cinemas de rua da cidade com um texto nostálgico do crítico de cinema Roberto Pujol. Além disso, trazemos alguns destaques imperdíveis da programação da Mostra. Boa leitura! :)
🎞️ No escurinho do cinema
Por Roberto Pujol, crítico de cinema
Houve uma época em que ir ao cinema era um programa muito mais lúdico e menos previsível do que é hoje. Muitas vezes uma visita à sala escura podia fazer você trombar com acontecimentos inesperados, divertidos ou até mesmo bizarros. Falo de um tempo em não existiam os multiplex, onde tudo é controlado, programado, seguro, chato. De quando os cinemas estavam nas ruas e não dentro dos shoppings. De quando era permitido entrar no meio da sessão e assistir ao resto do filme na sessão seguinte. De um tempo em que sempre havia um cinema perto de você, mesmo nos bairros residenciais.
Na avenida Paulista a oferta era generosa. A cada duas ou três quadras de sua extensão havia salas enormes e confortáveis que iniciavam suas atividades a partir das 14 horas e terminavam com a sessão das 22 horas - e da meia-noite na sexta e no sábado. Estudantes do Colégio Objetivo costumavam lotar os três cinemas que habitavam o mesmo prédio no número 900 da badalada avenida: Gazeta, Gazetinha e Gazetão. Logo ao lado, nas salas do Top Cine, e do outro lado da rua, onde estavam instaladas as salas Gemini 1 e 2, a frequência dos jovens também era predominante.
O público mais intelectualizado, ávido por filmes de arte, se aglomerava nas bilheterias das várias salas do Belas Artes, na Av. Consolação. Havia também os tradicionais Cine Astor e Cine Rio, no Conjunto Nacional, e o Bristol e Liberty no Center 3. Nos cinemas do centro a vantagem era o ingresso mais barato. Mas era preciso ir preparado, porque coisas estranhas aconteciam por ali. Certa vez, avistei um camundongo carregando na boca um copinho de papel. Não sai da sala, mas assisti ao filme com as pernas cruzadas, como se estivesse fazendo ioga. Isso não foi nada comparado à ratazana gorducha que vi rebolando pelo corredor de um cinema acima de qualquer suspeita. Outra sessão fazendo ioga. Eu mesmo fazia o que não devia. Lembro que no cine Comodoro, localizando no fim da Avenida São João e famoso por sua tela imensa, rolou até pizza e refrigerante de um litro com os amigos para enfrentar 4 horas de maratona de Ben-Hur - o que talvez explique a presença dos ratos.
Para os cinéfilos foi uma época de martírio. Qualquer ciclo de filmes clássicos era um acontecimento. Na falta deles, o jeito era correr para as duas salas do Cine Biju, ao lado da Praça Roosevelt, onde eram exibidas obras antigas de Bergman, Buñuel, Fellini, Godard, Sam Peckinpah, Antonioni, Polanski... Outro programa obrigatório era a badalada “Sessão Maldita” no Cine Marachá, localizado no fim da Rua Augusta. Uma única sessão, sempre à meia-noite, exibia tesouros como A Dança dos Vampiros, Ensina-me a Viver, Repulsa ao Sexo, entre outros.
🎬 Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
por Alana Benedetto, editora, e Marco Realino, redator de cinema, do @vivasp_cultura
Fundada em 1977, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chega à sua 48ª edição em 2024. Esse ano serão 419 filmes de 82 países, exibidos em mais de 20 salas e espaços especiais, entre os dias 17 e 30 de Outubro.
Os ingressos estão disponíveis em pacotes ou avulso, a partir de R$12 (meia) e R$24 (inteira). Além disso, há sessões GRATUITAS e circuito de filmes a preços populares - R$2 (meia) e R$4 (inteira). Você encontra todas as informações aqui.
🚨 Vale se atentar à compra dos ingressos avulsos, pois a venda é liberada sempre 4 dias antes da data da sessão, às 9h, ok?
A programação completa está disponível no site e no aplicativo da Mostra, mas, para instigar a curiosidade, selecionamos alguns destaques que você deve manter no radar:
🎥 Maria Callas (Maria), de Pablo Larraín (Itália, Alemanha, EUA)
A tumultuada, bela e trágica história da vida da maior cantora de ópera do mundo, revivida e reimaginada durante seus últimos dias na Paris dos anos 1970.
🎥 Ainda Estou Aqui, de Walter Salles (Brasil, França)
História autobiográfica de Marcelo Rubens Paiva, que aborda a vida de sua mãe, Eunice Paiva, uma advogada que acabou se tornando ativista política durante a ditadura militar brasileira. O elenco conta com Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello.
🏆Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza
🎥 O Brutalista (The Brutalist), de Brady Corbet (Reino Unido)
Um arquiteto húngaro visionário foge da Europa devastada pela guerra e se estabelece na América.
🏆Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Veneza
🎥 Baby, de Marcelo Caetano (Brasil)
Baby (João Pedro Mariano) é um jovem recém-libertado de um centro de detenção e, durante uma visita a um cinema com foco em produções pornográficas, conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa que passa a protegê-lo.
🏆Vencedor do prêmio de melhor filme no Festival do Rio
🎥 Manas, de Marianna Brennand (Brasil)
O longa de estreia de Marianna Brennand aborda o delicado tema de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes na Ilha do Marajó.
🏆Vencedor do prêmio de melhor direção na mostra paralela GDA no Festival de Veneza
🎥 Anora, de Sean Baker (Estados Unidos)
Anora é uma prostituta do Brooklyn que se casa impulsivamente com o filho de um oligarca russo.
🏆Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes
🎥 Vermiglio, de Maura Delpero (Itália)
Ambientado na Itália no final da Segunda Guerra Mundial, o filme conta a história de três irmãs em uma pequena aldeia montanhosa, sua metamorfose e seu crescimento após a chegada de um soldado.
🏆Vencedor do grande prêmio do júri no Festival de Veneza
🎥 Abril, de Dea Kulumbegashvili (Georgia)
Nina é uma talentosa obstetra em uma maternidade no leste da Geórgia. Após um parto difícil, a criança morre, e o pai exige uma investigação, que ameaça expor a atividade paralela de Nina: dirigir pelo interior até as casas de meninas e mulheres grávidas para realizar abortos não autorizados.
🏆Vencedor do prêmio especial do júri no Festival de Veneza
🎥 Tudo Que Imaginamos Como Luz, de Payal Kapadia (França, Índia, Holanda, Luxemburgo)
O filme conta a história de Prabha, uma enfermeira em Mumbai, e Anu, sua colega de quarto, que encontram um espaço para expressar seus desejos após uma viagem ao litoral.
🏆Vencedor do grande prêmio do júri no Festival de Cannes
🎥 Grand Tour, de Miguel Gómez (Portugal, Itália, França)
Em 1917, Edward foge no dia de seu casamento. Molly, a noiva decidida a se casar, diverte-se com sua fuga e o segue pela Ásia nesse grand tour.
🏆Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes
🎥 O Senhor dos Mortos (The Shrouds), de David Cronenberg (Canadá)
Inconsolável desde a morte da esposa, o empresário Karsh inventa a GraveTech, uma tecnologia revolucionária e controversa que permite aos vivos monitorar entes queridos em suas mortalhas. É o filme mais pessoal do renomado diretor, que reflete o luto pela morte de sua esposa.
🎭 Já ouviu a palavra do Clube da Cultura hoje?
A programação em São Paulo não para, né? Como dissemos na edição com a agenda completa do mês de outubro, hoje foram liberados os ingressos para o concerto GRATUITO com as músicas de Rita Lee na Sala São Paulo.
E, como sempre, os assinantes do Clube da Cultura, receberam um lembrete já com o link para compra e dicas extras diretamente pela COMUNIDADE | CLUBE DA CULTURA no WhatsApp:
Como é de se imaginar, os ingressos esgotaram em questão de minutos… maaaaaaas com o aviso já com o link para compra, muitos assinantes do Viva SP conseguiram garantir o ingresso! Não passar raiva nessas situações é uma das maiores vantagens de ser membro do Clube da Cultura! rsrs
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A assinatura custa R$7,90 por mês ou R$80/ano e, para assinar, basta clicar no link abaixo:
Até semana que vem!
Se você chegou até aqui, muito obrigada por nos ler! Semana que vem a gente volta com novas memórias de SP, causos e, claro, experiências culturais!
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nada melhor que os cinemas de rua e suas incontáveis histórias, lembranças, memórias..