Alguma coisa acontece: lugares com jeito de casa de vó
Se tem filtro de barro, então! É amor à primeira vista!
🌪️ Aconchego em tempos de caos
Por Alana Benedetto, editora do @vivamaiscultura
Estamos todos precisando de colo, de um jeito ou de outro. Então, não à toa, uma das maiores tendências de 2025 é a nostalgia. Não se trata de revisitar o passado, mas, sim, de buscar refúgio emocional no conhecido, preferencialmente com uma roupagem mais atual. Músicas dos anos 80 embalam vídeos e trends no Tik Tok, as câmeras digitais estão de volta à mão dos jovens e a estética de anotações manuais e design de revista ocupa as postagens estáticas no Instagram. Momentos que parecem ter sido extraídos diretamente de um álbum de família e situações que rememoram um tempo que já passou, que é conhecido.
Em um mundo cada vez mais imprevisível, é natural que a cultura do conforto ganhe força. A
discute muito essa tendência na ótima news Bits to Brands e tem um trecho que exemplifica bem a questão:"A cultura do conforto é o ato de perseguir memórias que despertam um senso familiar de alívio. Livros, filmes, seriados, músicas que você adora e que trazem um sentimento leve e agradável quando você os consome."
E essa busca pela memória afetiva não se limita ao mundo digital. Ela transborda para o espaço físico e vemos surgir, entrar no hype ou viralizar, espaços e estabelecimentos que nos transportam diretamente para um dos lugares afetivos de maior apreço: a casa de vó.
Cacarecos nas paredes, toalhinhas rendadas, filtro de barro, os antigos copos de requeijão decorados com personagens e, por fim, ele, aquele que foi cenário de muitas de nossas memórias: o Piso de Caquinhos.
Quem diria que o piso que começou como uma alternativa de baixo custo, bem a lá "jeitinho brasileiro”, se tornaria símbolo e ícone afetivo de mais de uma geração?
Para quem não conhece a história, tudo começou numa fábrica de pisos em São Caetano do Sul, entre as décadas de 40 e 50. O "carro-chefe" eram as lajotas cerâmicas quadradas, que eram vendidas nas cores vermelha (a mais vendida), amarela e preta. Porém, durante a produção, diversas peças quebravam eram descartadas num terreno abandonado perto da fábrica. Como material de construção era muito caro naquela época, um dia, um dos trabalhadores perguntou se poderia levar algumas das peças quebradas para pavimentar o terreno da sua casa nova.
Assim foi feito e os caquinhos predominantemente vermelhos, pontuados por alguns cacos pretos e amarelos, começaram a chamar a atenção da vizinhança do operário. Não tardou muito até que vizinhos se interessassem pelo refugo da fábrica também. Logo a moda pegou e até os jornais noticiaram a nova mania paulistana que, pouco tempo depois, foi adotada pela classe média.
A procura pelo Piso de Caquinhos ficou tão grande que ultrapassou as vendas da lajota quadrada original e, em certo momento, a fábrica começou a quebrar de propósito as peças para poder vendê-las em pedaços. Aos poucos surgiram variações, como as versões mais claras e em outras cores, e uma coisa se tornou certa: não importa a cor ou padronagem, o Piso de Caquinhos passou a integrar o cenário das memórias de muita gente, muita gente mesmo.
Hoje, enquanto escrevo este texto numa tarde de fevereiro com sensação térmica acima dos 35°, preocupada com as contas do mês e o celular vibrando com alertas da Defesa Civil sobre as chuvas intensas, me pego sorrindo e lembrando das tardes de domingo na casa da minha nonna. A cacofonia das crianças brincando, enquanto os adultos conversavam na sala e a TV mostrava algum programa de auditório típico dos anos 90. Eu, meu irmão e a primaiada toda de 1°, 2° e 3° grau correndo de um lado para o outro na garagem de portão baixo e corredor lateral, revestidos com piso de caquinhos. Um tempo que já passou, mais leve e, talvez, mais feliz.
🚦 Farol Verde
Sua dose semanal de arte e cultura
Para inspirar um pouco de aconchego em tempos inconstantes, uma seleção de lugares com jeito de casa de vó e piso de caquinhos para você conhecer:
☕ Café com Quintal: o simpático café ocupa um imóvel antigo na Vila Mariana e, como o próprio nome diz, conta um quintalzão recoberto com caquinhos vermelhos. É possível sentar nas mesas no quintal e apreciar o clima de casa de interior ou se acomodar nos sofás e mesas na janela dentro da casa para apreciar as comidinhas, cafés e sucos.
📍 Rua Eça de Queiróz, 122, Vila Mariana
⏰ Todos os dias, das 8h às 18h
🍫 Fábrica de Dengo: a loja conceito da marca Dengo Chocolates oferece atividades sensoriais como personalizar barras na Estação Monte Seu Dengo, degustação de chocolates e vinhos, além de sorveteria, restaurante e confeitaria. Tudo isso em um espaço amplo, com piso de caquinhos vermelhos no térreo.
📍 Av. Brig. Faria Lima, 196 - Pinheiros
⏰ Todos os dias, a partir das 8h
📚 Sebo Avalovara: o pequeno sebo escondidinho na Pedroso de Morais tem todo um charme extra com o piso de caquinhos branco. Estantes de livros e poltronas estampadas complementam a sensação de casa de vó do jeitinho que a gente gosta!
📍 Av. Pedroso de Morais, 809 - Pinheiros
⏰ Segunda a sábado, das 11h às 17h
🍸 Varal Bar: Parece uma casa, mas é um bar. O Varal Bar fica numa antiga casa da década de 1940 e o piso de caquinhos está por todo lado! Sério mesmo, tem até um túnel de caquinhos! Todos os ambientes remetem aos cômodos de uma casa, com sofás, quadros e mesas baixas de canto. Perfeito para bebericar e degustar os pratos como se estivesse em casa.
📍 Rua Artur de Azevedo, 636 - Cerqueira César
⏰ Terça a sábado, das 17h às 00h
👵🏽 Dona Zelda: o melhor pão de queijo da cidade tem endereço certo! E você pode degustar os pães de queijo feitos com quejo da Serra da Canastra, em versão recheada ou simples, num charmoso balcão feito de caquinhos brancos! A geladeira antiga azul, o café servido na xícara marrom duralex e a TV de tubo na parede complementam a viagem no tempo e o charme do local.
📍 Av. Ipiranga, 200 - Edifício Copan, Loja 76
⏰ 25 de janeiro, das 14h às 20h
🪑 Caquinho Paulista: como o próprio local diz, o Caquinho Paulista é uma lembrança boa. É como o quintal da casa dos nossos avós, com mesa grande para acomodar toda a família e amigos. São 3 quintais, dois salões e uma brinquedoteca para curtir com a família toda. O cardápio inclui receitas de famílias dos donos e outras criações mais elaboradas.
📍 Rua Simão Álvares, 454, Pinheiros
⏰ Segunda a sexta, das 12h às 16h. Sábados, das 12h às 23h, e domingos, das 12h às 18h
🖼️ Afeto em forma de arte
A artista Flavia Salama, amiga querida e talentosíssima - que inclusive já fez vários projetos com a gente e outros que ainda vem por aí -, eternizou algumas lembranças afetivas em ilustrações lindas!
As ilustrações são tamanho A3 e impressas em risografia, então tem aquele aspecto suave, bem artesanal e vintage, sabe? Os pôsteres - ou prints, se preferir - estão disponíveis para compra no site da artista.
Perfeito para quem quer ter um caquinho de memória sempre por perto! ❤️
Até semana que vem!
Se você chegou até aqui, muito obrigada por nos ler! Semana que vem a gente volta com mais causos de SP, reflexões e, claro, experiências culturais!
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A Alguma Coisa Acontece é a newsletter do canal autoral e independente Viva Mais Cultura e reúne histórias, causos, reflexões, experiências culturais e o que fazer em São Paulo. Afinal de contas, sempre acontece alguma coisa em SP!
To procurando alguma newsletter que fale de oficinas e coisinhas assim em SP! Voces tambem trazem isso? 🥰 adorando as newsletters!
Sim essas coisas do passado tão típicas,trazem um déjà vú.As vezes bom,por vezes mal.