Alguma coisa acontece... enquanto a chama queima
Com muito atraso, mas chegamos cheios de amor para alegrar a semana!
Chegando com atraso, mas trazendo muito amor! Não rolou a edição costumeira de sábado, então resolvemos trazer um pouco de cultura para o meio da semana mesmo! Afinal de contas, alguma coisa sempre acontece em SP, não importa o dia da semana!!
Farol Verde
Quem disse que não dá para aproveitar a programação cultural de SP durante a semana?
🎵 Temporada OSESP 2023: Vai ter Beethoven, Tchaikovsky, Bach, Villa-Lobos e muito mais na Temporada OSESP 2023 na Sala São Paulo! A venda de ingressos avulsa foi liberada essa semana, então corre que ainda dá para garantir os ingressos! Para facilitar, fizemos uma seleção de concertos imperdíveis já com o link para compra de ingressos no nosso Canal do Telegram.
🎉 Carnaval durante a semana: Estamos naquela época em que o glitter já nem sai mais do corpo! Para quem não aguenta esperar até o feriadão para curtir mais o Carnaval, o Cineclube Cortina traz o calor do frevo pernambucano para a quinta-feira com o bloco FREVÁLIA. E, na sexta, A Espetacular Charanga do França agita a pista.
🎷 Nina Simone - Blues: Nina Simone foi, sem dúvida, uma das maiores cantoras e pianistas da história da música e, em 1967, gravou o disco ‘Nina Sings The Blues’ com vários hits como Day and Night e Do I move you?. O grupo Voodoo Woman, composto por Laylah Arruda, Éder Martins e Rob Ashtoffen, faz uma homenagem à força da natureza Nina Simone no clube de jazz e blues Bourbon Street Music Club nessa quarta-feira, 15/02, à noite.
Enquanto a vela queima
Por Alana Carvalho, editora do @vivasp_cultura
Segunda-feira, quase dez da noite. Óbvio que estou atrasada (quando é que não estou?). A polêmica escultura do Borba Gato, minha referência espacial de Santo Amaro, ficou para trás e é impossível avistá-la de onde estou. Na minha frente, os carros passam rápido pela Av João Dias, alheios à tudo o que acontece dentro da casa centenária com paredes cor de vinho atrás de mim.
Por um breve momento, hesito. O que raios vim fazer aqui? Não sei exatamente o que se passa dentro da casa. O dia corrido me impediu de fazer uma pesquisa mais aprofundada e eu sei apenas o que me contaram. Detalhe, eu nunca vi pessoalmente a pessoa que me contou a respeito do evento. É, contando assim quase soa como prenúncio de catástrofe.
Uma última olhada ao redor e, finalmente, entro na casa térrea, meio barroca. Todo e qualquer receio evapora com a recepção calorosa de duas pessoas atrás de um balcão improvisado. A música tocada no salão ao lado chega até mim, mas ainda não consigo distinguir o que é dito. Após o pagamento de uma contribuição voluntária de R$10 (sorte que estava com dinheiro vivo na bolsa!), me encaminho para o salão circular de pé direito alto, paredes brancas e chão manchado. E, então, um novo universo se revela…
Eu levo alguns minutos para processas tudo o que está acontecendo. Pessoas sentadas em cadeiras em círculo, outras tantas espalhadas e escoradas nas paredes ao redor e alguns músicos com seus instrumentos no centro da roda, circundando uma mesa coberta por uma toalha. E, no ponto mais central do salão, reinando como a anfitriã da noite, uma vela vermelha acesa, cuja chama tremula calma e tranquilamente.
Não à toa, a roda de samba se chama Samba da Vela e, há 22 anos, segue na missão de dar voz aos compositores de todo canto em rodas de samba autorais. E por que a vela? A roda de samba tem início no momento em que a vela é acesa e só termina quando a chama apaga. É real: enquanto a chama segue acesa, o samba segue vivo!
Encostada numa das paredes, me deixei levar pelos versos das composições, pelo carisma dos músicos e pela força daqueles que levam tudo no gogó e improviso. A roda é aberta a quem quiser participar com suas composições! Muitos ainda levam papéis impressos com os versos para que todos cantem e acompanhem as letras.
Gente de todo tipo, com ou sem experiência em música, afinados ou nem tanto, com vozes mais fortes ou um pouco menos. Não importa. O que importa mesmo é a emoção colocada em cada um daqueles versos, a história de cada um que se revela naquelas palavras. Durante cerca de 2h fui embalada por aquelas histórias cantadas. Senti a força da resistência da comunidade do samba que se reúne, após longas horas de trabalho e deslocamento para chegar ali. Fiquei com os olhos marejados com os versos do homem que perdeu entes queridos durante a pandemia. Senti o arrepio na espinha e a esperança tomar meu corpo com tanta gente que segue firme apesar de todos os pesares, a cada dia. E, por fim, saí cantando o refrão composto por um grupo de mulheres maravilhosas e que representa perfeitamente a vida em São Paulo: to de saco cheio, to de saco cheio… trabalho 14 horas todo dia e, quando recebo, nem vejo a cor do dinheiro! Gravei um rápido trechinho para recordação e fica a aqui o registro para quem quiser ver também.
Quando a chama da vela apagou, eu e todas as outras pessoas no recinto fomos puxadas de volta para a realidade e forçadas a encarar a mais dura das verdades: hora de ir embora, pois o dia seguinte é de trabalho.
O samba termina quando a vela se apaga, mas a chama que o Samba da Vela é capaz de acender em quem descobre e se deixar embalar por essa comunidade tão calorosa segue queimando por tempos! A chama segue ardendo forte aqui dentro do meu peito até hoje.
*Em tempo, quem quiser conhecer o Samba da Vela, o primeiro encontro no ano será no dia 06/03, às 20h30, na Casa de Cultura de São Amaro. Aberto a todo mundo e, pode ter certeza, será inesquecível.
São Paulo, a capital das descobertas (e não só culturais)
Por Vi do @lgbtrip_
São Paulo é conhecida por aí como a cidade da diversidade: de culturas, etnias, rolês...e, claro, em termos de sexualidade e gênero também. Não é à toa que por aqui acontece a maior parada LGBTQIAP+ do Brasil e do mundo, além de eventos e festas emblemáticas para a comunidade.
Porém, o que pouco se fala é que, distante desses holofotes, São Paulo também foi se tornando com o tempo uma espécie de destino para a libertação e o autoconhecimento, especialmente para pessoas jovens. É aqui que muitos de nós conseguimos descobrir, entender e abraçar partes da nossa identidade que nem sabíamos que existiam - ou negávamos a existência, por questões pessoais e culturais.
Foi em São Paulo que entendi pela primeira vez que eu não precisava ser necessariamente heterossexual. Nasci em uma cidade do interior do estado que nem era tão pequena assim, mas onde essa realidade não existia para mim: não via na rua, não via na escola, não via no shopping. Os único lugares que me recordo dessa existência eram nos tais "clubes de gays" da cidade, que na cultura popular era sinônimo de promiscuidade, ou no shows de drag queens, que serviam apenas para tirar o riso da família tradicional interiorana.
Com 19 anos, São Paulo me mostrou primeiro que eu podia beijar um outro menino e continuar sendo uma pessoa normal. Que eu podia andar na rua de mão dada com ele e, inclusive, demonstrar afeto. Mas, muito além disso, me mostrou que eu podia ser feliz e construir uma vida ao lado de uma pessoa do mesmo gênero que o meu.
Esse é um relato pessoal, mas que se confunde com a história de dezenas - se não centenas de amigos, amigas e amigues - que conseguiram, pela primeira vez, entender que essa parte da identidade era não só válida, como possível, após virem para cá.
Não podemos ser ingênuos e pensar que São Paulo é o paraíso para nós, pessoas LGBTQIAP+. Não é. E os números de casos de violência – física, verbal, psicológica - estão aí para mostrar essa realidade. Mas é inegável que, aqui, muitos de nós nos sentimos libertos e seguros o suficiente para sair na rua deixando claro que, sim, somos pessoas LGBTQIAP+.
Quando eu volto para a minha cidade de origem e ando de mãos dadas na rua ou no corredor dos shoppings, os olhares das outras pessoas me acompanham. Mas, ainda assim, os dedos não se abrem mais para desfazer esse gesto de amor.
Se tem algo que devo à São Paulo é minha eterna gratidão. Sentimento compartilhado, com certeza, com outras tantas pessoas por aí que entenderam que, sim, há amor em SP. E ele não é apenas heteronormativo.
Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
“Eu amo morar no centro. Eu já moro aqui há alguns anos e esse ano, se não me engano, faz 8 anos que eu moro aqui… Eu moro próximo da região da Praça da Sé e, eu sei que São Paulo tem várias questões, principalmente de segurança e infelizmente eu vejo que algumas pessoas têm receio de frequentar a região central. Mas, apesar de tudo, eu fico maravilhado com o centro!
São Paulo é uma cidade feita de muitos contrastes… não só culturais, mas arquitetônicos também. Eu acho a arquitetura linda, cheia de detalhes e contrastes também, e a gente consegue ver muito do que foi São Paulo antigamente ao lado das novas construções.
Aqui próximo de casa fica o Patelo do Collegio e é um local que eu gosto muito de frequentar, principalmente aquela parte do café, que fica ali dentro. Eu já fiz várias aulas de inglês ali e é um lugar muito reconfortante, mas que poucas pessoas conhecem, né?
Outro cantinho que eu amo é o Parque da Aclimação. O Parque da Aclimação é um é um coração verde aqui perto do centro e onde você consegue praticar atividade física, você consegue levar os seus amigos para para fazer uma caminhada gostosa, encontrar pessoas ou levar os seus pets… é incrível ali, mesmo! E o Parque da Aclimação possui algumas áreas que também que são pouco conhecidas pelo pessoal que que só vai de vez em quando, né? Lá tem algumas trilhas que também dá para você fazer… é um lugar muito agradável e eu gosto demais.”
Victor Torres é apaixonado pelo centro de São Paulo, artista circense e educador físico. Você pode acompanhá-lo na página @victoriocircus.
Demorou, mas veio!
Quase que essa edição não sai! Mas veio cheia de amor e com o convite para seguirmos entre cantos, encantos e, por vezes, desencantos, nas descobertas (culturais ou não) em SP.
Essa semana a gente ainda volta com o especial sobre o que fazer no feriadão, tanto para quem quer ir para a folia como para quem quer sossego! Nos vemos já, já! :)
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Alana querida, amei seu relato sobre o Samba da Vela, e fiquei com vontade de ir! Que maravilha, que cultura genuína esta!
Todos os textos estão deliciosos de se ler!
Beijossssss