Alguma coisa acontece: em uma casinha tombada no Bixiga
Parece cena de filme, mas é o encanto do Bixiga mesmo!
Farol Verde
A volta de um dos musicais mais inesquecíveis, Festival de Documentários, Serra da Capivara e muito mais em Essepê
🎥 Tarantino no Cineclube Cortina: Na onda de comemorações dos 60 anos de Tarantino, o Cineclube Cortina, o bar/restaurante/cinema de rua ao lado da Praça da República, exibe sessões de Pulp Fiction e Cães de Aluguel no final de semana. O preço sugerido do ingresso é R$30, mas você pode optar por contribuir com quanto puder. Ingressos antecipados aqui.
👑 Brenda Lee e o Palácio das Princesas: O premiadíssimo, emocionante e inesquecível musical Brenda Lee e o Palácio das Princesas está de volta ao Teatro do Núcleo Experimental para uma nova temporada entre 14 de abril e 14 de maio. Com um elenco formado por mulheres trans, o espetáculo conta a história de Brenda Lee, ativista que fundou a primeira casa de apoio para pessoas LGBTQIA+ com HIV/Aids do Brasil na década de 80, e reflete sobre a luta das travestis nas ruas de São Paulo. Os ingressos custam a partir de R$15(meia)/R$30(inteira) e, como a temporada está concorrida, melhor comprar o ingresso com antecedência aqui.
🍽️ Almoço + Show na Ocupação 9 de Julho: Vatapá de castanhas com camarão seco, arroz de coco e farofa de dendê acompanhado de saladinha de feijão fradinho (chips de banana acompanham a versão vegana no lugar do camarão) no almoço de domingo na Ocupação 9 de Julho. O som fica por conta de Marcelo Jeneci, Junio Barreto e Pélico. A entrada é livre e o prato custa R$40, sendo que na compra de um almoço, uma quentinha é oferecida a uma pessoa em situação de vulnerabilidade também.
🗿 Pedra Viva: Inaugura no sábado, 15/04, a próxima exposição do MuBE, “Pedra Viva: Serra da Capivara, o legado de Niède Guidon”, sobre a pesquisa e trabalho da arqueóloga Niède, responsável pela criação e preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e que guarda importantes registros rupestres. A partir de sábado, 12h. Entrada GRATUITA.
🎬 É Tudo Verdade: O festival de documentários É Tudo Verdade reúne 73 filmes entre curtas e longas. Rolam sessões na Cinemateca Brasileira, Sesc 24 de Maio, Centro Cultural São Paulo, IMS e no Cine Marquise. O festival vai até 23/04 e todas as sessões são GRATUITAS. Programação completa aqui.
🎹 FIP Jazz e Encontros Históricos na Sala São Paulo: No sábado, 15/04, acontece o segundo concerto da Festa Internacional do Piano – FIP Jazz na Sala São Paulo com o sensacional pianista norte-americano Dan Nimmer, que faz parte da Jazz at Lincoln Center Orchestra. Ainda há ingressos disponíveis, mas, caso não consiga ir, é possível assistir pelo YouTube também. Ainda na Sala São Paulo, vale lembrar que a nova temporada dos Encontros Históricos, concertos que reúnem grandes nomes da MPB acompanhados pela Brasil Jazz Sinfônica, já estão à venda também e essa temporada conta com nomes como Vanessa da Mata, Tom Zé e Liniker.
Parace filme, mas é o Bixiga mesmo
Por Alana Carvalho, editora do @vivasp_cultura
O carro pegou aquela entradinha traiçoeira na alça da 23 de maio, colada no acesso para a Radial Leste. Ainda bem que o motorista do uber não deu atenção ao meu comentário, pois, se dependesse de mim, teríamos pegado a entrada para a Radial Leste ao invés da subidinha estreita para o meio do Bixiga.
Sobe uma rua, vira outra e as casinhas antigas coloridas ao redor me confirmam que estamos no Bixiga, esse bairro-não-bairro de São Paulo. Sim, eu sei que oficialmente não é um bairro, mas é quase como se fosse.
Conversa daqui, conversa dali e entramos em uma rua íngreme, a rua do meu destino final. Curiosamente, o motorista comenta que na semana anterior tinha deixado um pessoal naquela mesma rua, no lugar do toldo preto. Toldo preto? Espera, é onde eu vou também!!! Compartilhamos a surpresa daquela coincidência do universo, rimos e, então, desembarco no meu destino final.
Ali, na casa com o toldo preto na entrada, mora o arquiteto Murilo Grilo, um apaixonado pelo Bixiga. Nas horas seguintes, Murilo me conta sobre a experiência “Café com arquitetura em uma casinha no centro do Bixiga” que ele idealizou e atualmente disponibiliza no Airbnb. Você pode conhecer mais sobre essa iniciativa inusitada e acolhedora, pelas próprias palavras do Murilo, no Perfil SP dessa edição.
Nem percebo o tempo passar em meio às histórias, xícaras de café, bolo fofinho de fubá (o segredo está na forma de bolo que era de sua avó) e taças de rosé.
Na hora de ir embora, com o coração quentinho pela tarde de boas conversas, desço a pé a mesma rua íngreme e vejo o sol do fim da tarde cobrir de dourado as casinhas com batentes de porta brancos e janelas coloridas. Avisto um gato na janela do 1º andar da casa da esquina e rio sozinha enquanto reconheço o bichano das histórias que Murilo me contou.
Enquanto caminho pelo cenário com iluminação dourada, o som de uma pessoa ensaiando violino escapa por uma das janelas próximas e assume o papel de trilha sonora, completando a cena. Parece filme, mas é o encanto do Bixiga mesmo.
Perfil SP:
A cada semana, um pouquinho de SP pelos olhos de quem vive aqui.
“Eu tenho uma memória afetiva com o bairro. Eu mudei pra São Paulo, eu sou do interior de São Paulo, Paraguaçu Paulista, 560 km daqui. E desde que eu mudei pra cá o bairro que me acolheu foi o Bixiga, Bela Vista, né? E eu criei essa memória com o bairro e eu nunca consegui sair daqui por conta disso. (...) Já pensei em ir pra alguns bairros um pouco mais afastados, mas eu acho que por ser uma região central, o Bixiga é muito rico culturalmente e por eu trabalhar com arte também, com arquitetura, eu me sinto bem acolhido aqui. Eu acho que foi isso que me fez ficar no bairro, permanecer aqui.
E agora que a gente adquiriu a casa, pretendo envelhecer aqui. rs
No ano passado a gente começou a pesquisar algumas casas. Eu senti essa necessidade de num lugar novo que tivesse um quintal. Por conta da pandemia a gente ficou muito recluso dentro de casa, meu apartamento não tinha uma sacada ou nada, e eu me sentia meio sufocado de não ter um lugar pra respirar, pra olhar pro céu, nada…
A gente tinha visto um apartamento, não deu certo, e aí eu achei essa casa. No primeiro momento eu já me apaixonei pela casa! (...) A gente fez uma proposta, contamos que nós trabalhávamos com arquitetura e que a gente queria manter a memória da casa. Os proprietários adoraram e aceitaram a proposta. E a partir do momento que a gente comprou aqui me veio a ideia, o gatilho… por que não contar a história da casa, fomentar a cultura do bairro?
Nós trabalhamos com arquitetura, né? Temos esse respaldo técnico para poder falar sobre a arquitetura local. Então por que não abrir nossa casa para cafés com arquitetura e ter esse diálogo? Conhecer pessoas novas, conhecer a história de cada um e, isso, acrescentar na nossa história também. (...)
Comecei a criar as coisas, criar cardápio e fazer fotos dos pratos, elaborar o que que eu ia servir. E também fazer toda a pesquisa arquitetônica do bairro. Tem um momento especial quando as pessoas estão aqui, que é de manusear os elementos arquitetônicos, como um tijolinho que fez parte da construção da casa e tem 125 anos. E eu fui pesquisar a história desse elemento. De onde veio, qual época, eu descobri a relação dele (tijolinho) com o bairro, a relação dele com a Vila Itororó. (...)
Além da arquitetura, a memória do bairro são os próprios moradores, né? Eles que mantém a história viva e eles que contam a história, até porque além da história arquitetônica é muito importante esse pertencimento do bairro. (...) E tem esse calor humano, essa receptividade dos moradores entre si, essa troca, sabe? É uma troca que eu sentia só no interior. Cidade pequena você conhece todo mundo ou se você não conhece, já viu por aí. E eu sentia falta aqui em São Paulo desse calor, dessa troca. Eu senti muito essa falta na pandemia principalmente, porque em casa era só eu, o Clau e meu cachorro. Não tinha mais contato com ninguém e aí é só internet, né? Nesse mundo virtual, lógico, a gente consegue se aproximar das pessoas, dos amigos que estão longe. Mas nada como um olho no olho, um cafezinho sentado na mesa pra você conversar, né?
Eu adoro receber meus amigos e receber pessoas em casa. E eu acho que essa troca dos cafés com arquitetura é muito legal por isso. As pessoas vêm, a gente bate um papo no quintal, a gente conversa, troca informação. As pessoas se encantam com a casa, com a decoração, com a rua. Quando a gente estende o passeio para a rua, a pessoa fica encantada com as casinhas. E, por eu conhecer praticamente todos os vizinhos agora, a gente vai descendo a rua e os vizinhos vão cumprimentando, vão conversando. E na hora que vê, formou uma roda na calçada, todo mundo conversando!
(...)
A experiência dura 2 horas e está como “Café com arquitetura em uma casinha no centro do Bixiga” no Airbnb. Dentro da experiência eu ofereço um café, um prato salgado e um prato doce. Nós temos o momento do café, depois conto a história do bairro, da vivência, e é sempre uma troca, porque os participantes ajudam a contar essa história também e trazem novas informações. Aí a gente passa para o momento de manusear os elementos arquitetônicos que fizeram parte da construção da casa e finalizamos com um brinde no quintal, que é um momento mais descontraído, né? No final eu deixo aberto para as pessoas que quiserem ir comigo dar um passeio pela rua, pra gente identificar as outras casas tombadas e também escutar o rio que está tamponado na (rua) Japurá. Tem um ponto específico que a gente consegue escutar o rio. A experiência é muito orgânica, os assuntos vão se moldando conforme as curiosidades das pessoas que estão participando.
Quando sobram vagas estou conseguindo encaixar os vizinhos e é muito legal, porque tem vizinho que está aqui na rua já faz 20 anos e eles não conheciam a história do bairro, não sabia que passava um rio embaixo da rua que eles moram há 20 anos! A gente vai disseminando a informação, disseminando e chega uma hora todo mundo está sabendo do bairro. Todo mundo está ajudando a preservar a memória.
Em alguns encontros eu consigo casar minha agenda com a do artista Marcelo Smilee, que é aqui da rua também, e ele abre o ateliê. Já aconteceu em dois encontros de casar as agendas e eu levar os participantes daqui do café para conhecer o ateliê. Ele está sempre com alguma obra em andamento e mostra o processo, mostra as obras prontas. É bem legal e bem marcante.
Como é um grupo de 4 pessoas que eu recebo por vez, dá para ter uma troca boa, conversar com todo mundo. Se fosse um grupo maior, eu não conseguiria ter essa troca e dar atenção pra todo mundo. E eu acho que isso é o mais legal, né? Essa troca, esse calor humano, que é bem a cara do Bixiga.”
Murilo Grilo é um multiartista apaixonado por pessoas e histórias. É arquiteto, diretor de arte, consultor de imagem masculina e autor do livro “Vestir e Habitar”, que fala do habitar tanto do corpo quanto da casa e passa por temas como moda, arquitetura, religião e gênero. Atualmente está à frente do escritório M Home – Arquitetura e Interiores, ministra o curso Criatividade, Arquitetura e Design de Interiores e é anfitrião da experiência “Café com arquitetura em uma casinha do centro do Bixiga”. Você pode acompanhá-lo pela página @grilomu e acessar todos os seus projetos por aqui.
Até a próxima!
São Paulo pode ser muito irritante, a gente bem sabe! Mas tem dias que a cidade nos presenteia com uma golden hour ao som de violinos e a gente volta a acreditar que ainda existe amor esperança em SP.
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Os encantos e as pessoas do bairro são a memória viva do Bixiga <3