Alguma coisa acontece: no bairro da Liberdade
Convite a um olhar mais atento para a Liberdade e sua história
⛩️ Muito além dos postes vermelhos
Por Alana Carvalho e Gabriela Souza, respectivamente, editora e redatora do @vivasp_cultura
Quem caminha pelas ruas da Liberdade hoje em dia dificilmente imagina que o passado do bairro esconde tanta história não contada… A querida Liba, apelido carinhoso de quem já passeou muito por lá, carrega as várias histórias do próprio bairro mas também as de tantas pessoas que ali visitam, residem ou circulam diariamente. Eu mesma AMO a Liba, mesmo sem ter nenhuma conexão, digamos, ancestral com o local. Para mim, a nostalgia ali se dá pelas lembranças de uma adolescente otaku (e não emo!) que amava matar o tempo entrando e saindo das diversas lojinhas do bairro e sonhava em ser adulta, quando poderia finalmente ter a liberdade de comprar todos os mangás que quisesse (é, bem, essa parte aí de como a vida adulta real é a gente não precisa contar para aquela adolescente pisciana….).
Aliás, liberdade, o próprio nome do bairro já evoca essa sensação, né? Mas, ao contrário do que muita gente pensa, o nome Liberdade não faz referência ao navio que trouxe os imigrantes japoneses nem nada disso. A mudança do nome vem de muito antes da chegada da comunidade nipônica e faz parte da história de resistência afro-brasileira e afro-diaspórica da cidade.
O caso famoso que deu origem à mudança de nome do bairro, de Largo da Pólvora para Liberdade, foi a condenação do soldado negro Francisco José das Chagas, conhecido como Chaguinhas. Ele foi tido como líder de uma revolta contra os atrasos de salários da categoria em 1821 e assumiu, sozinho, a responsabilidade pelo movimento, inocentando seus companheiros. O soldado foi condenado ao enforcamento em praça pública, e em qual local ficava a forca da cidade? Isso mesmo, na atual Praça da Liberdade.
No dia da sentença, uma grande multidão se reuniu para acompanhar e dar apoio a Chaguinhas. Diz a lenda que a corda da forca se rompeu uma, duas, três vezes no momento da sentença! Interpretado como um claro sinal de inocência do soldado e quase intercessão divina, a multidão clamava: “Liberdade! Liberdade! Liberdade!”. Infelizmente, mesmo com a insistência da multidão, o soldado foi morto na quarta tentativa… porém, a partir daí, o bairro ganhou o nome atual: Liberdade.
Agora você deve estar se perguntando: e a inspiração oriental, de onde veio? Calma que a gente já vai chegar lá! Na década de 1940, a Liberdade era um bairro propício para os imigrantes japoneses em busca de uma nova vida, já que ficava próximo da oferta de trabalho no centro e ao mesmo tempo oferecia uma opção viável de moradia: o porão das casas que podiam ser alugados como quarto no subsolo por valores abaixo da média.
Com a concentração de imigrantes na região, não demorou muito até os primeiros intercâmbios de produtos e comidas típicas japonesas começarem entre a própria comunidade e, posteriormente, para outros tantos interessados. Daí até os primeiros comércios especializados foi um pulo! Por fim, a decoração oriental foi adotada em 1974 - época que a região concentrava outras comunidades orientais também, como os chineses e coreanos -, num esforço para criar um “bairro oriental” em São Paulo, seguindo a linha das ‘Chinatowns’ espalhadas pelo mundo.
Como bem sabemos, o estilo oriental pegou e até hoje o bairro é um dos queridinhos entre turistas, jovens tik tokers e tantos moradores de São Paulo, seja pelo cenário cheio de charme oriental, construído com os postes vermelhos que simulam lanternas japonesas, ou pela enorme profusão de lojinhas, galerias, restaurantes e barracas cheias de bugigangas e guloseimas que não sabíamos que precisávamos até encontrá-las. Ah, pobre daquela adolescente descobrindo hoje que salários não são feitos para serem completamente gastos na Liba…
Pois é, a Liberdade guarda muita história, contada e não contada... Cabe a cada um de nós conhecer, reconhecer e garantir que nenhuma parte da história de nossa cidade seja apagada novamente, então, com o olhar curioso da adolescente que um dia conheceu cada estabelecimento da Rua Galvão Bueno, hoje em dia desloco meu olhar para a multiplicidade de memórias e narrativas que a Liberdade concentra. Assim, tenho certeza que a adolescente que um dia sonhou aprender japonês por causa da Liba estará satisfeita. Fica aqui o nosso convite para você fazer o mesmo na sua próxima visita ao bairro.
🚦 Farol Verde
Um pouco mais da Liberdade e outras coisinhas mais:
🎊 Tanabata Matsuri 2024: O evento mais aguardado do ano na Liberdade já tem data para acontecer! O Tanabata Matsuri, o Festival das Estrelas, acontecerá nos dias 6 e 7 de julho, na Praça da Liberdade. O evento completamente GRATUITO conta com apresentações de dança, música e arte, além das barraquinhas com comidas japonesas. Durante o festival, os visitantes também são convidados a escreverem a enviarem os seus pedidos para os céus, escrevendo-os em filipetas de papel e os amarrando nos bambus espalhados pelas ruas do bairro.
📍 Praça da Liberdade
🗓️⏰ Sábado e domingo, 6 e 7 de julho
⏰ Ainda não divulgado, mas provavelmente entre 10h e 18h
🎟️ GRATUITO
⚠️ O evento lota MUITO, então a dica é se programar para ir cedo, principalmente antes do almoço
📚 A Feira do Livro: A edição d’A Feira do Livro 2024 está chegando! O festival literário organizado pela @quatrocincoum vai ocupar a Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, de 29 de junho a 7 de julho. O festival conta com a presença de inúmeras editoras, talks com autores, apresentações musicais e arrecadação de livros para a reconstrução do acervo de bibliotecas escolares e comunitárias do Rio Grande do Sul atingidas pelas enchentes. Lembrando que a doação deve ser de livros novos ou em bom estado, ok?
📍 Praça Charles Miller - Pacaembu
🗓️ De 29 de junho a 7 de julho
📝 Programação aqui
🎟️ GRATUITO
🎷 Jazz em São Paulo: uma noite dedicada à Elis
Em 1979, Elis Regina subiu ao palco do Festival de Jazz de Montreux para um show antológico! O show teve ingressos esgotados e a plateia vibrou com cada canção! Esse show, infelizmente, nunca foi apresentado em solo brasleiro... Mas e se você pudesse ter um gostinho do que foi esse momento histórico musical? O projeto de jazz do Viva SP, Jazz Mansion e KiaOra, te convida para o show 'Elis – 45 Anos de Montreux' por Luisa Caetano, na quarta-feira, 26 de junho. Um show delicioso e com um set list recheado de sucessos da carreira da nossa eterna Pimentinha. ❤️
📍 KiaOra Bar: R. Dr. Eduardo de Souza Aranha, 377 - Itaim Bibi
🗓 Quarta-feira, 26 de junho
⏰ Abertura da casa às 18h. Show às 20h30
🎟️ Ingressos: R$30
📲 Reserva antecipada do ingresso aqui
⚠️ Liberamos alguns VIPs no link acima, então já garante o seu!
🎭🔒 Clube da Cultura
Depois de conhecer um pouco a história da Liberdade, que tal um Guia de Lugares para COMER, PASSEAR, CONHECER E COMPRAR na Liberdade? A gente volta ainda essa semana, mais especificamente na quinta-feira, com uma edição exclusiva e um guia completinho do bairro para os assinantes da Alguma Coisa Acontece!
Caso você não seja assinante ainda, considere assinar e fazer parte do Clube da Cultura também! A assinatura custa apenas R$7,90 por mês, ou seja, menos que um pão na chapa e uma média, e basta clicar no link abaixo:
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Obrigado por nos ler!
Semana que vem a gente volta com as experiências culturais de julho e já adiantamos que o mês está movimentado! rs
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